sábado, 14 de outubro de 2006

Direto ao poder decisório em duas conferências decisivas.

Amigos e leitores desse blog questionam o porquê do destaque à indústria farmacêutica. A resposta é simples: a decisão do que será aplicado no país está muito mais na dependência da definição desse setor em acordos internacionais do que nas instâncias de decisões do Sistema Único de Saúde.
Considero melhor entender a lógica e, negociar com quem decide de fato do que ficar à mercê de três "pragas" atuais: speakers acadêmicos; empresas de relações públicas das farmacêuticas e, as ONGs de portadores de doenças (criadas somente quando há medicamento a ser comprado pelo governo). Essas são as três pontas de lança que impulsionam um produto goela abaixo das instâncias das três esferas de governo com a participação decisiva de revistas semanais com suas capas famosas. Bem, uma revista já está bem conhecida pelo modo de agir. Tudo isso para indicar para quem tiver possibilidade de assistir, dois eventos de interesse, um sobre vacina e outro sobre novos medicamentos. Enfim, chega de intermediários, vamos às fontes. A página de referência é http://www.gtcbio.com/ 4th International Conference on Vaccines: All Things Considered Washington, 16-17 de novembro de 2006 1. New Targets and Technologies for Vaccines
2. New Vaccines for Children and Adults
3. Vaccines in Development
4. Vaccine Policy and Biodefense
5. Pandemic Influenza6. Vaccines for Emerging Markets 2nd Modern Drug Discovery & Development Summit Filadelfia, 4-6 de dezembro de 2006
2. Model Organisms in Drug Discovery
3. CNS Diseases and Drug Discovery
4. Nanobiotechnology in Drug Discovery
5. Antibody Discovery and Development
6. Drug Delivery Technology
7. Medicinal Chemistry
8. Epigenetic Cancer Therapy
9. Stem Cell Research and Regenerative Medicine
10. Drug Safety and Pharmacovigilance
11. Biotech and Pharmaceutical Licensing and Deal-Making

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

India recebe pacientes americanos e de outros países.

Abaixo, segue a transcrição de três parágrafo do The New York Times, sem qualquer comentário.
(1) A few weeks ago, Carl Garrett, a 60-year-old North Carolina resident, was packing his bags to fly to New Delhi and check into the plush Indraprastha Apollo Hospital to have his gall bladder removed and the painful muscles in his left shoulder repaired. Mr. Garrett was to be a test case, the first company-sponsored worker in the United States to receive medical treatment in low-cost India. But instead of making the 20-hour flight, Mr. Garrett was grounded by a stormy debate between his employer, which saw the benefits of using the less expensive hospitals in India, and his union, which raised questions about the quality of overseas health care and the issue of medical liability should anything go wrong. (2) With medical costs in India routinely 80 percent lower than in the United States, experts predict that globally standardized health care delivered in countries like India and Thailand will eventually change the face of the health care business.
(3) Providing health care to foreigners could generate $20 billion for India by 2012, according to a study by McKinsey & Company, the consulting firm, although McKinsey did not say how many patients that figure represents. With 150,000 overseas patients last year — though only a small fraction of them Americans — India is already the global leader in importing foreign patients for low-cost treatment. Its best hospitals have Western-trained doctors and are equipped with modern equipment.

Jeca Tatu Legal: vacina para amarelão, indicada?

O Estado de S. Paulo (11/10/06) noticia que o Instituto Sabin de Vacina, o Instituto Butantan e a Fiocruz estão desenvolvendo conjuntamente um vacina para o amarelão ou ancilostomíase. O parasita (Necator americanus ou Ancilostoma duodenalis) que por sangramento gastro-intestinal produz anemia importante. O portador mais famoso foi Jeca Tatú, personagem imortal do imortal Monteiro Lobato.
Questiono a importância dessa vacina no Brasil de 2010 quando estiver em uso (se aprovada, evidentemente). Especulo, com chance de erro, que a botina e, principalmente a urbanização intensa trouxeram o Jeca Tatu para a periferia das cidades grandes, sendo agente ou vítima da violência e, estando hipertenso com risco de acidente vascular cerebral. Dois artigos para leitura, um de Luiz Rey na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical [2001; 34: 61-7] e outro do grupo que propugna a vacina publicado no International Journal of Parasitology.[2003; 33: 1245–1258]
Não consegui achar nenhum estudo empírico mostrando a prevalência desses parasista em população brasileira na última década. Quem souber que se manifeste.

Hipócrates traído: uma vez mais médicos e tortura.

Não li o livro, somente a resenha no The New England Journal of Medicine que presentou os leitores com acesso livre à crítica. Para quem tem lembraça das lambanças de médicos brasileiros no apoio à tortura, a descrição é muito ruim porque mostra a atualidade da cumplicidade dos médicos com a tortura.
Steven H. Miles escreveu um artigo no The Lancet em 2004 sob Abu-Ghraib, a infame prisão iraquiana onde médicos e enfermeiros descumpriram o compromisso básico de suas profissões.
O título do livro é
Oath Betrayed: Torture, Medical Complicity, and the War on Terror
Steven H. Miles. 220 pp., illustrated. New York, Random House, 2006. $23.95. ISBN 1-4000-6578-X
A resenha de Michael A. Grodin, e George J. Annash no NEJM encontra-se em
http//content.nejm.org/cgi/reprint/355/15/1624.pdf
O texto Abu-Ghraib its a legacy for military medicine no The Lancet pode ser lido em
Comentário: a discussão dos direitos humanos na ensino médico é fundamental para o bom funcionamento de qualquer sociedade.

Proposta do Wal Mart de venda de genéricos foi bem recebida

O The Wall Street Journal realizou pesquisa de mercado mostrando que a venda de genéricos a baixo custo (já aqui comentado) pela Wal Mart nos Estados Unidos atrairá uma grande quantidade de consumidores. Na amostra de 2.493 adultos com representativa para aquele país mostrou que um quarto sempre compra genéricos, 28% se possível compra e, soomente 19% afirmam que somente compram medicamentos de marca. Outra informação dessa pesquisa foi o local de compra de medicamentos: (1) cadeia de farmácias (Walgreens, CVS, Eckerd); 39%; hipermercados de desconto ( Wal-Mart, Target,Sam's Club) 13%; farmácia independente, 12%; online ou correio, 11%; farmácia em supermercado, 10%; farmácia em hospital ou centro de saúde, 5%; qualquer lugar, 3%; nunca compra remédios, 7%.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

piauí: sem "medicina & saúde".

O site “No Mínimo” fez uma resenha de uma nova publicação, a revista semanal “piauí”. O destaque fica para o comentário sobre a ausência de qualquer artigo relacionado a medicina e saúde na nova publicação. Também não encomendaram a médico algum o decálogo para uma vida longa, nem a um mísero personal trainer sua lista de dicas de boa forma. Tudo isso está tão ausente da “piauí” quanto aquelas sensacionais matérias que proíbem – para no mês que vem reabilitar – o cafezinho, o ovo frito, o chocolate ou o nabo. Coma, não coma, faça, não faça, procurei esses imperativos com lupa nas 70 páginas de papel de livro (pólen soft 70g), em tamanho grande (26cm x 35cm), e não achei nenhum. Nem para remédio. Também não achei nenhuma matéria sobre remédio.

Farmácia Popular

Cometi um erro histórico com Miguel Arraes. Recebi um comentário educado de seu filho, nosso colega Luiz. A correspondência está no post abaixo. Pior, não atentei ao fato que Eduardo Campos, neto de Miguel, concorre ao governo de Pernambuco. Longe daqui qualquer incursão político partidária. Sempre enfatizo que as grandes mudanças ocorrem no consenso das forças políticas que impoem a sua vontade às forças econômicas. A Luiz, novamente obrigado pelo alerta.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

O mercado farmacêutico se adapta aos genéricos e co-pagamento.

Causa estranheza ao visitante do país, mais especificamente de São Paulo, o número elevado de farmácias. Sem dúvida temos um número grande que proporciona competição, ao contrário dos Estados Unidos, onde há quase monopólio em algumas cidades. No DCI (07/10/06) revela alguns dados interessantes sob o ponto de vista de um distribuidora de medicamentos, a Panarello: (1) o medicamento genérico já representa 14% das vendas no país e, é responsável pela redução de preço dos medicamentos de marca; (2) as compras do governo aumentaram de 11% para 16% em 2006 do total de medicamentos; (3) três quartos do faturamento das farmácias vem da venda de medicamentos de prescrição; (4) a indústria farmacêutica está negociando diretamente com as grandes redes (11% das vendas dos laboratórios) , aumentando os descontos; (5) os atacadistas (74% das vendas dos laboratórios) estão com dificuldades em repassar descontos para os pequenas e médias farmácias; (6) as distribuidores, entre elas a Panarello, estão investindo na organização dos pequenos e médios para enfrentar a concorrência das redes; (7) o co-pagamento do governo federal já tem impacto no comércio varejista, os pequenos e médios deverão se organizar para aderir ao processo que envolvem investimento em informática.
Comentário: posso ser otimista em demasia, mas assiste-se a um raro acerto entre a eficiência da iniciativa privada e o papel regulador e estimulador do estado. O próximo passo será exigir e controlar as medicações prescritas, a somente - ironia - quem tiver prescrição médica. A política de genéricos (sempre bom lembrar que foi proposta do deputado Eduardo Jorge, então no PT e, aplicada pelo então ministro José Serra) e, agora o fracasso da Farmácia Popular (idéia de Arraes e Chaves), que para manter as aparências evoluiu para o programa excelente de medicamentos a custo baixíssimo para diabetes e hipertensão.

domingo, 8 de outubro de 2006

Antiangiogênese e degeração macular: uma história interessante

The New England Journal of Medicine (06/10/06) publica dois artigos originais, uma revisão e editorial sobre antiangiogênese para tratar (de fato, reduzir a evolução) a degeneração macular. A degeneração macular não é ainda a principal causa de cegueira (no Brasil, ainda a catarata; nos Estados Unidos, o diabetes), porém em poucas décadas será a causa número um porque a melhoria do tratamento do diabetes e, o aumento da sobrevida em geral aumentarão o número de idosos propensos a desenvolver a degeneração macular e, evoluir para cegueira. O único fator de risco para a degeneração macular é o tabagismo, mesmo assim ele explica muito pouco, afinal a doença já era conhecida no século XIX. O tratamento está vindo de medicamentos que “curariam o câncer”, os antioangiogêncios, como ranibizumab e o bevacizumab. Os primeiros ensaios clínicos foram “excitantes”. Vamos aguardar o que virá, porque se confirmar esses resultados a longo prazo com pouco risco haverá um tratamento efetivo para a doença. A história é interessante porque uma das maiores barrigas do "jornalismo médico" foi em 1998 quando Gina Kolata publicou no The New York Times que o câncer estaria curado em 2 anos com o advento da antiangiogênese. Até agora, o impacto dessa classe é quase nenhum, mas a perspectiva para o tratamento da degeneração macular tornará essa classe comercialmente muito, mas muito mais interessante. Todos os textos estão acessíveis somente para os assinantes da revista ou para quem tiver acesso aos periódicos CAPES. Acima, foto mostrando fotografia da degeneração macular em homem de 93 anos publicada no NEJM.

llegais sofrem mais com as doenças da limpeza do WTC

The Washington Post (08/10/06) relata o drama dos imigrantes ilegais que trabalharam na limpeza dos destroços do World Trade Center depois do 11 de setembro de 2001. Foram ao todo 40 mil trabalhadores que fizeram a limpeza manual porque o uso de máquinas e tratores estavam contra-indicados. Como já foi provado, os trabalhadores independentes da situação legal apresentaram tosse (33%), produção excessiva de escarros (24%) e chiado (18%). As grávidas tiveram filhos com peso menor do que o esperado. A alcalinidade elevada da poeira produziu hipereatividade bronquial, tosse persistente e, devido à alta concentração de asbestos há risco futuro maior de mesotelioma. Entre os trabalhadores havia grande quantidade de mexicanos, centro-americanos, chineses, russos e poloneses ilegais que por esse motivo foram alijados de atenção médica. Devido a essa situação, o grupo Beyond Ground Zero conseguiu atendimento e recursos da Cruz Vermelha para atendimento dos “ilegais”, porém vários deles já se dispersaram no país ou voltaram ao local de origem. O trabalho de PJ Landrigan e colaboradores mostrando os riscos dos trabalhadores que limparam o Ground Zero pode ser acessado em Health and environmental consequences of the world trade center disaster. Environ Health Perspect. 2004;112:731-9.