sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Como criar e manter um país injusto (2)

A Gazeta Mercantil informou ontem que a Secretaria de Planejamento quer garfar o orçamento da saúde em 2007. Dois pesquisadores sintetizaram o milagre que o setor saúde faz no país em artigo de opinião na Folha de S.Paulo.
Hoje, acreditei que o jornais de grande circulação fossem "repercutir" o noticiado pela GM. Nada disso, temos Zé Dirceu falando que mais gosta, ele mesmo; da união-desunião do PMDB; novo remédio para câncer de mama (quem pagará o SUS?) e, notícias requentadas sobre a aids informando que o Brasil é exemplo mundial (continuará a ser??).
No post anterior, traduzi o que o ex-deputado Eduardo Jorge expressou sobre a visão dos sindicalistas sobre o SUS. Estendo essa opinião também aos jornalistas, professores universitários, profissionais de uma forma geral que somente utilizam o SUS para procedimentos de alto custo. O restante das necessidades como consultas, parto e cirurgias média são bancados por planos de saúde. Eu especulo que muitos jornalistas, pensam que verbas para saúde servem somente para aumentar o salário de médicos que já ganham muito. Ficam com raiva do assunto e, tome Zé Dirceu, PMDB, reforma política .....

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Como criar e manter um país injusto.

A leitura de jornal nessa quinta-feira, 30/11/06 revela a conjuntura na área da sáude:
Gazeta Mercantil: a secretaria do Planejamento reduzirá o orçamento para a saúde em 2007 embutindo como gasto em saúde, a famosa "bolsa-família" ou mudando a forma de reajuste prevista na emenda constitucional #29 (EC-29).
Folha de S. Paulo: "A resposta brasileira à aids, resultado de decisão política, do ativismo comunitário e do investimento de recursos, é a prova maior de que o SUS pode dar certo. Com apenas 150 dólares per capita ao ano, o sistema público opera verdadeiro milagre, ao manter 500 mil profissionais e 6.500 hospitais; financiar 1 milhão de internações por mês e dar assistência aos portadores do HIV, aos renais crônicos, aos pacientes com câncer; ao realizar a imensa maioria das cirurgias cardíacas, das internações psiquiátricas, dos transplantes e todo o sistema de urgência e emergência, além da vigilância e da prevenção em saúde". artigo de Caio Rosenthal e Mario Scheffer.
comentário: a redução de custos do governo federal tão em voga em período pós-eleitoral tem como alvo, entre outros, a assistência médica. Eduardo Jorge, um dos mais ferrenhos defensores do SUS e, salvo engano, redator da PEC que originou a EC-29, foi um dos primeiros a mostrar que os atuais detentores do poder político federal, tinham (e, continuam a ter) pouca solidariedade com o restante da população. Afinal, eles utilizaram sempre serviços médicos muito bem financiados, com o dos bancos estaduais, Banco do Brasil e outras estatais. De certa forma, o mesmo valeu para trabalhadores de setores dinâmicos da economia, como o automobilístico, com planos de saúde próprios ou convênios médicos. Também, se beneficiaram no setor público: a memória de ex-residente do Hospital das Clínicas nos anos anos 80 é suficiente para não esquecer o tratamento diferenciado recebido por familiar de líder sindical.

Sabin Institute: simpósio sobre vacinação

Recebi telefonema de Ciro de Quadros, presidente do Sabin Institute, questionando a informação que a instituição que dirige faz lobby para venda de vacinas. Apesar da minha formação católica, não tenho objeção ao comércio ao lucro e, fazer lobby é uma atividade regulamentada em vários países e, melhor ser explícito do que camuflado como no Brasil.
Ele questionou informação de que não haverá brasileiros no simpósio sobre vacinação pneumocócica em São Paulo, citando vários nomes presentes. Por fim, questionou outro post desse blog sobre a vacina para ancilostomíase.
Não redijo esse blog para ofender ninguém. Se falar em lobby e incentivo a venda for assim entendido, retiro minhas palavras. Quanto ao simpósio, ótimo ver brasileiros participando, somente questiono, se essa atividade é uma prioridade do Ministério da Saúde e Secretarias estaduais. Por fim, quanto à vacina para ancilostomíase estou aguardo os dados do Instituto Rene Rachou/FIOCRUZ para continuar meus comentários.
Por fim, recomendo a quem interessar a participar do simpósio cujo programa pode ser lido em
http://www.pneumococcalsymposium2006.com.br/agenda.php

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Conflito de interesse, comissões de ética em pesquisa e a opinião de pacientes

The New England Journal of Medicine publica dois artigos sobre conflito de interesse entre médicos e a indústria farmacêutica. Um deles mostra que há ligações em quantidade e qualidade excessiva entre participantes de comissões de ética em pesquisa e indústria farmacêutica. Outro artigo divulga pesquisa da opinião de pacientes com câncer sobre a ligação de médicos e indústria. Mostrou que os pacientes não se importam se o médico está recebendo algum tipo de remuneração da indústria para prescrever medicamento antineoplásico. Os dos artigos e, um editorial podem ser acessados em http://www.nejm.org

Pfizer corta 20% sales rep

The Wall Street Journal informa que a maior empresa farmacêutica do mundo, a Pfizer cortará 20% dos propagandistas, os famosos sales rep, que mereceriam um estudo antropológico de suas atividades mundo afora.
Calcula-se economia de 400 milhões de dólares!!
A interpretação seria que a empresa está empregando funcionários em número maior do que o necessário para o portfólio dela. Minha impressão é que trata-se de mais uma profissão que está encolhendo. O acesso das empresas farmacêuticas é cada vez mais dirigido a pacientes do que médicos e, o contato da empresa com médicos ocorre cada vez mais por meios eletrônicos.

Wal-Mart & Intel: capitalismo americano não confia na própria indústria da saúde.

Simplesmente surpreendente a notícia do The Wall Street Journal: empresas dinâmicas e lucrativas resolveram se unir para gerenciar a assistência médica. Segundo, o presidente da Intel: "francamente, não acredito que a indústria da saúde é capaz de se modificar".
Aparentemente essa ação assusta médicos e hospitais, porém de certa forma obriga que o paciente exerça papel mais ativo na atenção médica.
Segue o texto na íntegra.
Big Employers PlanElectronic Health Records By GARY MCWILLIAMSNovember 29, 2006; Page B1 Several big employers are about to deliver an electronic jolt to the U.S. health-care system. Next week, Intel Corp., Wal-Mart Stores Inc., British Petroleum and others will disclose a plan to provide digital health records to their employees and to store them in a multimillion-dollar-data warehouse linking hospitals, doctors and pharmacies. Their goal: to cut costs by having consumers coordinate their own health care among doctors and hospitals. Craig R. Barrett, Intel's chairman, calls portable electronic records "the building-block to modify the U.S. health industry" into a more responsive and cost-conscious system. "I frankly don't think that the industry is capable of modifying itself," he says. Next week, the companies will announce their collaboration on a records standard to kick-start the plan. Later, about 10 employers are expected to chip in $1.5 million each to construct a data warehouse to store and update the e-records. Once in place, the combination would allow consumers and insurers to evaluate price and performance data from millions of employees. Eliminating duplicate tests and erroneous or lost information would also slash administrative overhead, which is estimated to account for 40% of medical costs. And electronic prescriptions alone could help prevent the 98,000 serious illnesses or deaths that result annually from prescription mistakes. Doctors could also use the records to measure which treatments worked best for chronically ill groups of patients. In addition, once their records are online, employees could order prescriptions and calculate their out-of-pocket medical costs using software that understands their health plans. Patient medical records -- often hand-written -- are currently strewn among doctors' offices and hospitals. Computerizing them has long been supported by hospital and doctors' groups, but has foundered on technical and cost grounds. Now, only about 10% of U.S. doctors have a completely electronic record-keeping system. Coalition members believe that giving consumers control over their own records would help get around the technical and cost issues. But the idea of portable medical records and a massive repository still faces hurdles. Privacy advocates worry that digital records will be misused by employers and insurers to deny jobs or health-care coverage. The watchdog group Patient Privacy Rights Foundation urges employees to shun the approach until there are adequate protections. "The system is leaking information," says Chairwoman Deborah C. Peel, a practicing psychiatrist. "Once out there, it's like a Paris Hilton sex video. It's [there] for the millennium." The coalition expects to apply a combination of market pressure and incentives to get doctors and hospitals on board. The employers will insist that health-care providers adopt electronic records and prescribing as a condition of future business. Retailer Wal-Mart will apply its purchasing power to get bar codes on products intended for hospitals and clinics. All expect employees to pick doctors willing to use and update their records, though employee compliance is voluntary. According to the companies, the records will be the property of the employees, and the data will be mined by insurers and others only after the patients' identity is stripped off. "We're trying to bring all the right people to the table and show them what can be done," says Linda M. Dillman, the Wal-Mart executive vice president in charge of the company's budding health-care initiative. A late comer to the health-care debate, Wal-Mart has been criticized for its employee health plans, and it has sought out allies among medical societies and health-care advocates. Intel and Wal-Mart came together on the initiative last summer at the suggestion of the Centers for Disease Control and Prevention. Each had been meeting separately with the federal agency to discuss its efforts. Wal-Mart's Ms. Dillman describes the linkup as a bit of unexpected luck. "There is only so much you can do internally. To make a difference, you have to reach outside your own four walls," she says. Both companies' businesses could benefit from the initiative's success. Intel sells chips that power prescription-writing hand-held PCs as well as giant file servers. Wal-Mart, the third-largest pharmacy chain, will soon have 60 "miniclinics" dispensing basic health-care services, and it is rapidly expanding the business. Wal-Mart and Intel also share a common enemy: benefit costs. Intel figures its health-care spending will be as much as a fifth of its research and development costs by 2009. Wal-Mart says the costs for its 1.3 million U.S. employees, if unchecked, will climb $1 billion annually for the next five years. While health care in the U.S. has remained paper-based and fragmented. Danish hospitals, pharmacies and general practitioners communicate via a secure, government-supplied network. Danes can go online to book medical appointments, renew prescriptions, view diagnoses and query their doctors. At the heart of the Intel-Wal-Mart approach is the belief that if price and quality measures apply market pressures, technology can duplicate the integration that government-run health-care systems like the Danish one achieve. The final pieces to the puzzle -- pricing and performance information -- only recently started appearing online. The government posts pricing information using the fees charged to Medicaid. Groups including Hospital Quality Alliance, Ambulatory Quality Alliance and the Wisconsin Collaborative for Healthcare Quality rate hospitals and doctor groups on quality. "The evidence is beginning to show that what gets measured and reported publicly gets improved faster," says Christopher Queram, president of Wisconsin Collaborative for Healthcare Quality, which began rating southeast Wisconsin hospitals and doctors in 2003. "If this works, for the first time people and companies will be able to get a sense of how their doctors are doing so they can steer to or from them," says Sheldon Greenfield, director of the health-policy research center at the University of California, Irvine. Costs will fall when consumers can see "other doctors are achieving the same outcomes at lower cost. That's going to eventually affect us," he says. Suitable quality measures for certain illnesses, such as depression and heart disease, aren't currently available, says Dr. Greenfield. But in other areas, such as diabetes, there are widely accepted ways to measure quality -- and match it to pricing. The Intel-Wal-Mart plan to offer employees medical records and automatically update those records with hospital, doctor and pharmacy detail "is very ambitious," says Dr. Greenfield, an adviser to Care Focused Procurement LLC., a nonprofit putting together an HMO claims database. "We love the patient as the agent." "It has always seemed unusual to me that the medical record is seen as the property of the medical system," adds Donald Berwick, chief executive of the Institute for Health Care Improvement, Cambridge, Mass. Tests are duplicated and information lost in the handoff between physicians or clinics. "The best integrator in the end is the patient," Dr. Berwick says. Write to Gary McWilliams at gary.mcwilliams@wsj.com

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Câncer de Próstata: uma interpretação diferente, sem alarmes.

O Instituto Nacional do Câncer divulgou os novos dados sobre a mortalidade por câncer no país, na verdade dados do sistema de informação de mortalidade do Datasus. Os jornais de São Paulo deram destaque diferentes. Para a Folha de S. Paulo, o importante foi a queda das taxas de mortalidade por câncer de estômago. Para O Estado de S. Paulo foi o aumento da mortalidade por câncer de próstata. As notificações de morte por neoplasia maligna de próstata quase dobraram entre 1979 e 2004. As razões são várias: (1) houve melhora na notificação em geral, com número menor de mortes sem diagnóstico; (2) o envelhecimento da população propicia o aumento da incidência e, consequentemente mortalidade por cânceres, como o de próstata; (3) a mortalidade cardiovascular diminuiu, aumentando a probabilidade de morte por outras causas, como os cânceres; (4) o surgimento de um marcador diagnóstico para o câncer prostático, o PSA, que possibilitou que novos fossem diagnosticados; (5) o aumento do diagnóstico do câncer de próstata aumenta a proporção de casos que morrem com câncer, mas não de câncer.
(6) esse é um viés de informação da notificação médica em vário países, o de privilegiar o câncer prevalente e, não a causa básica, na maioria das vezes cardiovascular.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Bill Gates, filantropia e prioridades em saúde

Época (27/11/06) apresenta entrevista com Bill Gates, da Microsoft, sobre a atividade de filantropia de sua fundação que terá fundo de US$3 bilhões em 2008. Fundações estrangeiras estimularam atividades na área da saúde no Brasil, como a Rockefeller que financiou a construção do prédio da Faculdade de Medicina da USP. Outras como Ford, Kellogs, Ludwig, Wellcome também atuaram e, ainda atuam trazendo recursos para pesquisas e atividades assistenciais em áreas diversas da saúde pública e da medicina. O objetivo de Bill Gates é financiar o tratamento e prevenção das assim chamadas "doenças neglicenciadas", como aids, tuberculose e malária, entre outras. Muitos brasileiros entendem que a proposta de Bill Gates é extremamente adequada à nossa realidade. Discordo.
Assumir a proposta de Gates implica negar as transformações radicais na relação urbano-rural e na dinâmica demográfica das últimas décadas. O Brasil do "Jeca Tatú" e de "Lampião" é hoje uma caricatura. Somos mais a "Cidade de Deus", um país, onde os problemas urbanos se avolumam em progressão geométrica com impacto em indicadores de saúde como doenças cardiovasculares, doenças mentais e violência.
Há dois anos escrevi editorial sobre doenças neglicenciadas, onde insistia que a doença cerebrovascular por apresentar taxas elevadas no Brasil, representava um exemplo de "negligenciamento" mais moderno. Isso porque a hipertensão arterial, causa principal da doença cerebrovascular, não era considerada como ação prioritária em saúde pública e, o tratamento dos casos agudos da doença cerebrovascular é muito ruim.
Os pronto-socorros de qualquer cidade do país estão lotados de pacientes de meia-idade e idosos com doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca, insuficiência arterial periférica, doença pulmonar obstrutiva crônica, traumas de todos os tipos. Entre as crianças há novos vírus como o sincicial respiratório e o metapneumovírus que causam mais internações que todas as negligenciadas somadas.
Bill Gates poderá ajudar as atividades de saúde pública, ou se mal orientado, poderá atrapalhar criando programas que não representam prioridade de ação de saúde pública.

Lavoisier Popular: exames baratos em São Paulo

O Jornal da Tarde (26/11/06) destaca o programa de exames baratos do laboratório Lavoisier. Um glicemia sairá de R$28,00 por R$4,00. Um ultra-som obstétrico custará R$38,00 nesse programa contra R$170,00 nos demais centros diagnósticos.
O preço menor da glicemia se justifica porque quantidade maior de exames implica redução de custo unitário em equipamentos com capacidade ociosa. Mesmo para exame dependente de médico, como o ultra-som, o valor cobrado é semelhante ao recebido de planos de sáude porque há vantagens adicionais como pagamento à vista, ausência de glosa e redução de gastos administrativos para cobrança.
Nada contra essa proposta, muito pelo contrário. Trata-se de medida arrojada que pode alcançar um público que tem dificuldade de acesso aos laboratórios públicos., não somente pela restrição de agendamento como também pela distância e custo de transporte para a realização do exame.

domingo, 26 de novembro de 2006

China impede reunião de hemofílicos

A Reuters noticia que a polícia chinesa proibiu uma conferência de ativistas hemofílicos denominada "Blood safety, AIDS and Human Rights", organizada pelo Beijing Aizhixing Institute of Health Education.
O governo chines, tal como em todas ditaduras, tem verdadeiro horror em reconhecer problemas na saúde pública, porque contradizem a imagem oficial de "higiene social". A epidemia de aids ainda é tabu na China. No entanto, a representante chinesa, Margaret Chan foi eleita para ser a nova diretora da Organização Mundial da Saúde, com o voto brasileiro e, apoio da burocracia da organização.