Leia em "Clínica & Epidemiologia" o despacho da Reuters sobre o estudo Advance, que teria resultados distintos do Accord. Esquenta a briga Estados Unidos - Comunidade Européia no mercado do diabetes e obesidade. Em alguns momentos há interesses comuns, depois surgem divergências, principalmente com o FDA, agora de volta à velha forma motivada pela maioria democrata no Congresso. A Big Pharma ianque está sem perspectiva de manter a influência política do período George W. Por justiça a ele, iniciado nos tempos de B.Clinton. Mas, H.Clinton não será fácil para a Big Pharma, como foi B.Clinton.
Quanto ao Advance, interessante que um pesquisador como Rori Collins de Oxford tente ganhar o jogo no grito: o nosso estudo foi diferente! Melhor esperar a publicação, não Rori? Há diferenças importantes entre o Accord e o Advance importantes, como o alvo para redução da hemoglobina glicada e os medicamentos utilizados.
Para os inocentes que se divertem vendo gastos em cartões corporativos, esse debate é uma lição sobre interesse nacional. Duas potências travam uma luta surda por um mercado: o da obesidade e do diabetes. Em alguns momentos pensam nas corporações em outros, nas populações. Mas, sempre no seu país. Aqui, um ministro da Agricultura vai a público entregar a "rapadura". Leiam o blog do Alon para entender.
Um comentário:
Dr. Paulo,
li seu comentário, bem como os textos do blog do Alon, motivo pelo qual tomo a liberdade de lhe enviar um breve comentário, sobre a questão da carne bovina. Nesse tema há um aspecto amplificado pela mídia (o da recusa européia em importar carne não rastreada brasileira) e um aspecto que está sendo subtraído do debate e até ocultado por suposta razão de defesa de intereses nacionais (falta dizer de quem: dos grandes frigoríficos exportadores). Na verdade, a carne vendida aos consumidores nacionais é de baixíssima qualidade, tanto em sabor e textura, quanto (e principalmente) no aspecto sanitário. Basta dizer que o abate cladestino (feito sem inspeção do SIF ou de órgãos autorizados) responde por 40% (estimativa otimista) da demanda nacional por carne bovina. Em geral, a carne vendida no mercado local se refere a bois velhos (acima de cinco/seis anos), vacas de descarte ou animais jovens que não atingiram o padrão de exportação (capa de gordura abaixo do mínimo). A carne de qualidade vai para Europa e Ásia. Em vez de transformar o caso em uma simples questão comercial, o debate deveria se concentrar nos aspectos sanitários do rebanho local. O dr. sabia que ainda não conseguimos nos livrar da febre aftosa, principlamente porque grande número de pecuaristas se recusa a vacinar regularmente seus rebanhos? Sabia também que boa parte do rebanho da região Nordeste apresenta índices crônicos de tuberculose? E que há subnotificação dos casos de brucelose (afeta também o leite) e carbúnculo?
Já me alonguei demais. Apenas acredito que a ocasião seria propícia para melhorar a qualidade da produção pecuária nacional. Em paralelo, seria o caso de discutir o sistema de produção atual, no qual os frigoríficos exportadores ganham muito dinheiro, enquanto os pecuaristas róem os ossos. Esse sistema, aliás, funciona bem e incentiva a pecuária extensiva (grande áreas, baixo investimento em manejo, inclusive sanitário) em detrimento da criação intensiva de alta qualidade. Talvez seja essa a raiz do problema.
Um forte abraço de seu leitor,
Marcelo Fairbanks.
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