sábado, 26 de agosto de 2006

Jayme Landmann (1920-2006) Um mestre da razão e da polêmica morre esquecido na era dos médicos popstars.

Salvo engano, passou despercebida a morte de Jayme Landmann há um mês no Rio de Janeiro. Nascido na Romênia em 1920, chegou ao Brasil, em 1929, formou-se em Medicina pela Universidade Federal Fluminense em 1945, posteriormente trabalhou no Hospital Servidores do Estado e foi diretor do Hospital Pedro Ernesto e do Centro Biomédico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fundador junto com José de Barros Magaldi (professor da USP falecido precocemente em 1978) da Sociedade Brasileira de Nefrologia, foi introdutor da terapia renal substitutiva no Brasil. Sua notoriedade transbordou os limites da medicina carioca e da nefrologia nacional nos anos 80 quando assumiu a condição de polemista médico número um do país. Sua contribuição foi grande onde destaco três livros que ainda restam em minha biblioteca: “Medicina não é Saúde” da Editora Nova Fronteira em 1983 e “A Outra Face da Medicina” da Editora Salamandra em 1984. “As Medicinas Alternativas: Mito, Embuste ou Ciência?” da Editora Guanabara em 1988. O destaque de Landmann foi devido a proposições não dogmáticas e, pelos seus ideiais coletivos para organizar a medicina e a saúde pública brasileiras. Atitude bem distante do exibicionismo atual de médicos. Uma entrevista excelente foi publicada na revista eletrônica MedOnLine em 1998 que ainda pode ser lida em http://www.medonline.com.br/med_ed/med4/entrev.htm Sua contribuição ao debate da prática da medicina no país nunca foi reconhecida pela saúde pública brasileira por pelo menos quatro motivos. Primeiro, a deformação da medicina pelo “complexo médico-industrial” ainda era incipiente perto da provocada nos anos 90; segundo, Landmann não usava linguagem marxista, nem tinha lido Foucault, o que o afastava da assim chamada “epidemiologia social”; terceiro, como dirigente hospitalar não aceitou a manipulação política das greves nos anos 80 o que motivou antipatia; quarto, combateu o corporativismo motivando uma reação inquisitorial do então Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro que lhe aplicou uma censura sigilosa que ele tornou pública em recurso ao Conselho Federal de Medicina, onde foi absolvido. Jayme Landmann deixou viúva, filhas, genros, netos e bisneto.

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