Durante um bom período, discuti muito com sanitaristas que faziam um diagnóstico errado do perfil epidemiológico brasileiro: pobre morreria de doenças infecciosas e ricos de doença cardiovascular e câncer. A lógica deles propiciava um arranjo profundamente injusto: saneamento para os pobres e excelentes hospitais para os ricos, vide o InCor. Demorou para perceberem que a lógica da desigualdade social atua em quase todos os aspectos do binômio saúde-doença. Em outras palavras, o risco de doença cardiovascular e câncer é maior entre os pobres do que nos ricos. Somente, doenças que surgiram de fora, como a aids, tinham um padrão inverso, agora a realidade é inversa: o risco do HIV é maior entre os pobres. Todos estudos empíricos mostram que hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo são mais prevalentes entre pobres do que entre ricos ou (utilizando outra forma de medida) então entre os com menor escolaridade comparado àqueles com diploma universitário.
Voltando aos anos 80: esse raciocínio impediu que a tecnologia de atendimento à doença cardíaca se espalhasse nos hospitais da periferia. Afinal, para que? Conclusão, hoje o risco de morrer de doença cardíaca nos moradores dos bairros mais pobres é o dobro quando comparado ao dos residentes nos bairros afluentes. Bem, e o racialismo? Fica para o post seguinte.
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