Em todos os projetos de pesquisa
ou de manuscritos há sempre preocupação (como sinônimo de aflição, angústia,
ansiedade, apreensão) com a “estatística”.
Sem dúvida, o manuseamento dos dados é relevante para provar ou refutar a
hipótese formulada. Em oposição, há despreocupação (como sinônimo de
displicência) no uso de informações oriundas de questionário. Parte-se do princípio
que todas as respostas em questionário têm a verossimilhança similar ao de “sexo”
ou “data de nascimento”. Na maioria das vezes, as respostas aos quesitos sejam
positivas ou negativas não são se
referem a um objeto único. Inevitavelmente, precisam ser analisadas caso a caso
com o mesmo rigor que ao escolher um teste estatístico. Um primeiro tópico de
discussão é o uso dasvariáveis “História Médica Pregressa” na base do ELSA-Brasil.
(1) Objetivo do HMPA não é
o de um inquérito de morbidade. A organização e disposição das perguntas tiveram como
objetivo ter informação de diagnóstico médico prévio com a finalidade de
excluir os participantes com resposta positiva na avaliação longitudinal. Em
outros termos, essas perguntas não foram organizadas como em inquérito de
morbidade específico (embora comparado a alguns inquéritos, a qualidade do HMPA
é superior). Uma causa da confusão identificada nas submissões de manuscritos é
a interpretação por parte de proponentes de manuscrito do significado de que a
informação “confirmada por médico”. Há uma diferença sutil entre a resposta
positiva a um quesito como “colesterol alto” (HMPA8), por exemplo, e o que se
entende por “diagnóstico médico” no sentido de presença (ou ausência) de doença
a partir de queixa ou sintoma, como por exemplo o infarto agudo do miocárdio
(IAM), o HMPA10.
(2) Fator de risco não é
doença. Doença e
fator de risco são categorias distintas. Fatores de risco são variáveis
contínuas (não necessariamente lineares). Doenças são variáveis categóricas
(não necessariamente dicotômicas, mas ordinais). Fator de risco e doença não
podem ser somados em um novo conjunto, como “doença crônica”. A diferenciação
entre doença e fator de risco pode ser ilustrada pela forma como o momento do
diagnóstico ocorre. O IAM foi um fato marcante para o participante (dor
intensa, vômitos, transporte, atendimento em emergência, internação em terapia
intensiva, exames com intervenção e até cirurgia) de tal forma que ele se
lembra do que fazia no momento do início da dor. O diagnóstico de infarto do
miocárdio ocorre a partir de um quadro clínico bem definido acompanhado de mais
de um exame realizado de forma sequencial. Embora existam exames mais sensíveis
quando comparado aos de 30 atrás, o quadro clínico de IAM persiste o mesmo. A consequência
do IAM pode ser morte por arritmia ou insuficiência cardíaca. O diagnóstico de
IAM dependerá da qualidade do atendimento médico e, na maioria das vezes o
paciente terá ciência do diagnóstico até com documentação de exames. Em
oposição, o diagnóstico de “colesterol alto” pode ter sido motivado pelo
calendário. Imaginem uma pessoa que realizou um exame uma semana antes de uma
nova diretriz sobre dislipidemia onde se decidiu pela redução do ponto de corte
do nível de colesterol elevado. Esse participante poderá ter dormido saudável e
acordado “doente”! Se o IAM é diagnosticado com uma constelação de informações,
a informação sobre “colesterol alto” tem precisão baixa porque pode se referir
ao colesterol total, LDL, triglicérides (esse colhido sem jejum em alguns
momentos). A discordância entre médicos sobre o diagnóstico de IAM no momento
do atendimento é praticamente desprezível quando comparado a duas situações de
discordância médica. A primeira entre dois médicos ao avaliar um mesmo paciente
com colesterol elevado. A segunda, a de um mesmo médico ao se comportar de
forma diferente com dois pacientes que tem valores numéricos iguais de
colesterol. Apesar da proliferação de diretrizes sobre o tema colesterol, a sua
interpretação não é unânime mesmo entre os proponentes.
Polemizar sobre “regressão logística” versus “regressão de Poisson” é importante, mas distinguir doença de fator de risco é absolutamente fundamental
Polemizar sobre “regressão logística” versus “regressão de Poisson” é importante, mas distinguir doença de fator de risco é absolutamente fundamental
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