A frase pode ser novidade para alguns, mas não deveria. Nos anos 1950/60 se instalou um dos debates mais interessantes na medicina que se refletira de forma extremamente sólida na epidemiologia contemporânea. Robert Platt e George Pickering eram médicos britânicos. O primeiro presidente do Royal College of Physicians, o segundo Regius Professor of Oxford (um antecessor seu foi William Osler e o seu sucessor foi Richard Doll).
Platt defendia a idéia da hereditariedade da hipertensão, de tal forma que existiriam dois tipos de indivíduos, os hipertensos e o normotensos, ou seja seria uma distribuição bimodal.
Pickering visualizou uma situação bem diferente, a de que a pressão arterial é um contínuo e quanto maior for o seu valor, maior será o risco. Em oposição, quanto menor o valor pressórico, menor o risco cardiovascular
Essa polêmica se estendeu por anos. No início a posição de Platt prevalecia na comunidade científica. Posteriormente, os primeiros resultados de estudos de coorte como Framingham Heart Study e dos primeiros ensaios clínicos com hipertensos mostraram que Pickering tinha toda razão ao considerar que havia um continuum de risco. Em 1955 ele critica tanto o conceito existente (defendido por Platt) como a formação do vocábulo “hipertensão”.
Escreveu Pickering: Hypertension – not a well chosen word, a bastard of Greek and Latin parentage and signifying not high blood pressure but over-much stretching. The use of the term has lead to the practice of distinguishing between normal pressure and hypertension, and thus by easy stages to the assumption that those subjects with hypertension differ qualitatively from the rest of mankind.
O conceito de risco contínuo em relação a pressão arterial e níveis de colesterol persiste e se consolida. Até hoje não sabemos qual seria o valor mínimo de pressão arterial ou de colesterol que elevaria o risco cardiovascular ou da mortalidade geral.
Na figura abaixo sintetiza-se a polêmica “Platt-Pickering”.
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