A indignação dos erros de imprensa no Brasil é diretamente proporcional à contrariedade ao projeto político-ideológico defendido pelo denunciante do equívoco. Jornalistas consideram que há somente "manipulação", nunca "erro". Ou seja, eles são sempre tecnicamente competentes, mesmo quando fazem traquinagens. Esse blogue não é um "media watcher", por isso não discutirá o tema "febre amarela", mas lembrará outro episódio envolvendo imprensa, ciência e medicina.
Há quase dez anos (04 de maio de 98), The New York Times publicou reportagem da famosíssima Gina Kolata onde o também famosíssimo prêmio Nobel, James Watson afirmava que "em dois anos chegaremos à cura do câncer devido aos trabalhos de Judah Folkman". Folkman trabalhava no Children´s Hospital associado à Harvard Medical School. A reportagem saiu em um domingo e, durante toda a semana houve muitas reportagens de TV e, todas as revistas semanais do mundo, sim todas, repercutiram o fato na capa da semana seguinte. Eu morava em Boston, à época e, muitos dos especialistas em câncer não entendiam o que se passava, visto que não havia novidade alguma em uma das mais promissoras linhas de pesquisa em oncologia.
Bem, como vimos nada aconteceu e, os efeitos das inúmeras reportagens foram muito ruins. Meu pai que estava com câncer terminal foi por mim alertado no mesmo domingo, em telefonema, antes do Fantástico. Porém, mundo afora inúmeros pacientes tiveram a falsa esperança de cura.
Foi um erro imenso do The New York Times e de todos os demais jornalistas. Crédito somente para o Time que expressou na capa Hype or Hope? um trocadilho: Sensacionalismo ou Esperança? Médicos brasileiros que foram entrevistados sobre o tema chegaram a propor o Nobel para Folkman! Quase todos médicos quiseram se mostrar bem relacionados com um pesquisador tímido e recluso, que tinha poucos relacionamentos fora do círculo bostoniano.
Quem quiser conhecer melhor a história acima relatada, poderá ler o obituário de Judah Folkman, morto há menos de um mês. Uma homenagem a um grande cientista.
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