sábado, 2 de setembro de 2006

Exjade: notícia sobre medicamento na coluna social

Um local inusitado para o anúncio de medicamento, o “Exjade”: a coluna social “Persona” do Estadão (02/09/06). A nota diz afirma que trata-se “ primeiro medicamento oral de administração diária para a sobrecarga de ferro no organismo que pode acarretar danos ao fígado, glândulas endócrinas (sic) e coração”. O "Exjade" é o deferasirox um quelante de ferro cuja informação completa pode ser consutada em http://www.exjade.com, porém não há informação completa em português. Interessante que a notícia publicada em setembro como exclusiva, de fato encontra-se divulgada no país desde fevereiro de 2006 quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o seu uso para talassemia, anemia falciforme e síndromes mielodisplásicas. Ou seja, são situações clínicas pouco freqüentes, mesmo quando considerada a hemocromatosose, a prevalência é baixa. Afinal, porque o destaque agora ? Estranho o mundo da divulgação farmacêutica!
Em tempo: a vinda de um medicamento oral para reduzir o ferro representa um sossego para os talassêmicos que sofrem com injeções e bombas de infusão. A prevalência da beta-talassemia no Brasil é elevada devido à imigração italiana e levantina que são os portadores principais dos genes da talassemia. Infelizmente, há médicos que confundem a microcitose da talassemia com deficiência de ferro e, prescrevem o que menos um talassêmico precisa, o ferro. Obviamente, o medicamento será de alto custo e bancado pelo Sistema Único de Saúde.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

NEJM: Responsabilidade individual pela doença.

The New England Journal of Medicine na edição 355:8 de 24 de agosto de 2006 apresenta um tema para lá de polêmico, discutível, mas que não consegue deixar ninguém sem opinião: a da responsabilidade individual pela doença. Há empresas que não contratam fumantes, outras estimulam não fumar, controlar o peso e se exercitar. Os textos abaixo são de acesso livre e, merecem reflexão. Outra informação é sobre a política do estado de West Virginia sobre o Medicaid, o plano para a população indigente.
Robert Steinbrook. Imposing Personal Responsibility for Health http://content.nejm.org/cgi/content/full/355/8/753 Gene Bishop Amy C. Brodkey. Personal Responsibility and Physician Responsibility — West Virginia's Medicaid Plan. http://content.nejm.org/cgi/content/full/355/8/756
Comentário: sou contrário a qualquer restrição de contratação, porém regras coletivas devem ser respeitadas como a de não fumar no local de trabalho, da mesma forma com há normas de como se vestir, que hora chegar, sair. Também não aceito que seja produtivo induzir hábitos ditos saudáveis, porque há uma enorme simplificação no conceito popularizado como “fator de risco”. No entanto, demandas por exames preventivos deveriam ser condicionados à cessação do vício tabágico. Exemplo, mamografias deverima ser realizadas somente para mulheres fumantes que abandonassem o vício, porqeu manter o uso diário de cigarro causará muito mais mal do que a não realização da mamografia de rastreamento.

Tuberculose: Brasil recebe US$ 27 milhões do Fundo Global

O Estado de S. Paulo noticia que o Brasil receberá em cinco anos US$ 27 milhões para implantar o novo programa de controle da tuberculose. Esse valor se somará à verba destinada ao controle da doença que foi, segundo o jornal, R$118 milhões entre 2003 e 2006. A situação da tuberculose no Brasil é vergonhosa considerando o que está sendo gasto na aids, na hepatite nos transplantes. E, a culpa deve ser dividida pela sociedade e pelos técnicos de saúde. A causa principal do descaso é o fato de ser doença de pobre e desvalidos e, para a qual a indústria farmacêutica não tem nenhum remédio caro para ser comprado pelo governo como no caso da hepatite. Não há ONGs, nem advogados, nem promotores que acionam o Sistema Único de Saúde para garantir o atendimento ao tuberculoso. No entanto, para a hepatite.......... Um fator ressaltado pelo professor Antonio Ruffino-Neto foi um "efeito colateral" da municipalização do SUS que fez com que administrações locais desprezassem o controle da tuberculose, como aconteceu na gestão Maluf-Pitta em São Paulo nos anos 90. Laurie Garret em seu livro Betrayal of Trust dedica um capítulo a descrever o ocorrido em Nova Iorque durante o governo Giuliani no atendimento à tuberculose para mostrar o quanto danosa se transforma a ideologia do "estado mínimo". Por último, não há como negar que a academia tem a sua culpa ao não valorizar o ensino e treinamento de alunos e médicos residentes no diagnóstico precoce e, no tratamento da tuberculose.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Vacina para HPV/câncer do colo do útero e a "inverse care law".

Jornais divulgam o lançamento da vacina para o papilomavírus no mercado indicado para mulheres entre 12 e 26 anos sem atividade sexual para prevenir a infecção pelo vírus e, consequentemente reduzir o risco de câncer de colo uterino. A vacina é administrada em três doses com imunidade por cinco anos. O custo será de R$120,00 por dose, "proibitivo" na rede pública conforme declara o Secretário de Vigilância à Saúde do Ministério. A vacina será acessível somente a quem puder pagar e, quem o fizer receberá um recibo no valor da vacina e, ela própria ou o responsável poderá abater o valor total (R$360,00) no imposto de renda. Aliás, há uma contradição no preço ou na moeda utilizada pela Merck Sharp Dohme do Brasil, o informativo The Nation´s Health da American Public Health Association fala em US$360, o preço das três doses nos Estados Unidos. Comentário: o câncer de colo uterino é das doenças mais associadas às pobreza e deprivação social. Julian Tudor Hart desenvolveu a "inverse care law' que ganhou o apelido de lei de Tudor Hart. Com certeza, estamos mais uma vez comprovando o epidemiologista galês, ainda vivo e, repetindo a sua mesma assertiva há mais de 30 anos. "The availability of good medical care tends to vary inversely with the need for it in the population served. This ... operates more completely where medical care is most exposed to market forces, and less so where such exposure is reduced. The market distribution of medical care is a primitive and historically outdated social form, and any return to it would further exaggerate the maldistribution of medical resources." Hart JT. The inverse care law. Lancet 1971; i: 405-412.

domingo, 27 de agosto de 2006

Folha de S.Paulo (27/08/06) Homicídios caem 51% em São Paulo.

Uma notícia escondida no meio do caderno "Cotidiano", sem qualquer menção na capa da edição ou do caderno mostra notícia importante: a regressão das taxas de mortalidade tanto na capital como no Estado de São Paulo. O pouco destaque do jornal seja motivado pelo receio de ser confundido como fato eleitoral. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Segurança Pública por semestre para mostrar que apesar dos atentados orquestrados por presidiários em maio de 2006, as taxas de homicídio no primeiro semestre de 2006 foram as menores desde há dez anos. Apesar das redução das taxas, ainda estamos longe dos valores de 1980 e, das taxas observadas em outros países.
A compreensão do fenômeno "declínio de homicídios" encontra-se em quatro publicações técnicas muito bem elaboradas por acadêmicos contratados pela própria Secretaria de Segurança Pública. O material foi escrito em linguagem técnica, com limite à interpretação do não iniciado em epidemiologia.
A causa da redução não fica clara, da mesma forma que não foi possível entender o aumento dos assassinatos nos anos 80. Uma somatória de ações preventivas, repressivas e demográficas seria a explicação mais desejável. A conclusão indesejada seria que o crime realmente tornou-se organizado e, reduziu a violência para garantir os negócios ilegais. As publicações técnicas podem ser acessadas em http://www.ssp.sp.gov.br/estatisticas/
Outra publicação de acesso livre é de pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz onde há uma descrição da violência fatal nas capitais de estados brasileiros em 2003. Esse artigo mostra que o homicídio não é característica de Rio de Janeiro e São Paulo, cidades onde as sedes das redes de televisão tornam tudo muito mais visível. Recife, Maceió, Vitória, Porto Velho e Belo Horizonte tiveram taxas mais elevadas do que Rio e São Paulo.
O texto de Edinilsa Ramos de Souza e Maria Luiza Carvalho de Lima denominado The panorama of urban violence in Brazil and its capitals Ciênc. saúde coletiva vol.11 no.2 Rio de Janeiro Apr./June 2006 está acesso livre em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232006000200014&lng=en&nrm=iso&tlng=en

Violência na Venezuela sob censura

As taxas de homicídio (morte por 100 mil habitantes) aumentaram nos últimos 14 anos na Venezuela de 12 /100.000 para 51/100.000 em 2003. Para efeito de comparação em 2003, a taxa de homicídios nas capitais brasileiras foi de 28,2/100.000 e, a capital com maior taxa - Recife - o valor foi 64,4/100.000. No entanto desde 2004, as informações de mortalidade por homicídio na Venezuela não estão mais disponíveis ao público, tornando-se "segredo de Estado". Lembra o ocorrido no Brasil nos anos 70 quando a epidemia de meningite foi censurada nos meios de comunicação, porém ao menos eram de conhecimento das equipes técnicas. O histórico da violência recente na Venezuela encontra-se bem descrito no artigo de Roberto Briceno-Leon. Violence in Venezuela: oil rent and political crisis. Ciênc. saúde coletiva, Apr./June 2006, vol.11, no.2, p.315-325. com acesso em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232006000200010&lng=en&nrm=iso&tlng=en A história da censura à divulgação da epidemia de meningite no Brasil dos anos 70 pode ser lida no livro de Rita de Cassia Barradas Barata. Meningite: Uma doença sob censura?. 1. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1988. v. 1. 215 p.