sábado, 24 de novembro de 2007

Programa antitabágico: aumentar o imposto (IPI) do cigarro

Após avanços na última década, o programa antitabágico perdeu o foco, ou melhor, deixou de ser interessante para efeitos midiáticos. Melhor, discutir descriminação da maconha ou o aborto ou mesmo a obesidade infantil. Apesar de reduções importantes na prevalência, a magnitude do problema é maior do que das três situações acima somadas. Veja divulgou estudo pouco conhecido feito entre outros por Vera Costa e Silva, uma das responsáveis pelo sucesso do plano brasileiro no início dos anos 90. Abaixo, trecho da reportagem.
O programa brasileiro de combate ao cigarro colecionou uma série de avanços ao longo das últimas duas décadas. O país foi o primeiro no mundo a proibir, nas embalagens, o uso de palavras que poderiam levar o consumidor a uma falsa idéia de segurança. Eram termos como "light" e "baixos teores". Também se destacou por fazer constar nos maços fotografias pavorosas sobre os males do fumo à saúde. Foram os primeiros passos de uma campanha que teve no banimento da propaganda do tabaco seu ponto forte. Nos primeiros sete anos conseguiu reduzir o consumo per capita de cigarros em 33,6%. Com medidas e resultados assim, o programa, criado em 1987, deu ao país uma posição de liderança na luta contra o tabagismo. Mas as notícias agora já não são tão animadoras. Ao completar duas décadas, acaba de sair do forno a primeira grande avaliação sobre sua eficácia. Um estudo do Banco Mundial, ao qual VEJA teve acesso com exclusividade, concluiu que o programa empacou. Desde 1994 ele não produz nenhum impacto significativo. O consumo per capita naquele ano era de 1.220 unidades e hoje se encontra em 1 200 . Pior, nada indica que será reduzido. A estagnação é preocupante. O tabaco é responsável por 200 000 mortes por ano no Brasil. Para vencer essa guerra, serão necessárias armas mais poderosas. A estratégia sugerida pelo estudo é mirar diretamente o bolso dos fumantes. Nos anos 90, o maço de cigarros populares custava, em média, 2,45 reais. Hoje está em torno de 2,27 reais. Os pesquisadores perceberam que a queda do preço se deu em razão da redução do peso do imposto sobre produtos industrializados (IPI) no preço do cigarro. Nos anos 90, ele representava 41% do preço final do maço. Atualmente, equivale a 20%. (assinante de Veja, clique aqui)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Vasectomias e esterilização: finalmente um pouco de inteligência

A Agência Nacional de Saúde Suplementar acertou com as operadoras a cobertura de vasectomia, esterilização tubárea e planejamento familiar. Nada mais certo e atrasado. Trata-se de um burrice. Vejam agora, a declaração do presidente da ABRAMGE na Folha de S. Paulo:
O presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), Arlindo Almeida, afirmou que a inclusão de novos procedimentos "vai ter um impacto financeiro e influir nos preços dos planos"."Os cálculos ainda serão feitos, mas a previsão inicial é de que o impacto será de cerca de 10%." Almeida aponta a queda de abortos clandestinos como um benefícios para as próprias operadoras, o que pode suavizar o "impacto financeiro"."É louvável em certos aspectos, pois pratica medicina de planejamento. Com isso evita muitos abortos. As operadores têm um custo alto com as conseqüências destes procedimentos. A longo prazo, pode-se dizer que pode até ter uma vantagem [para as empresas]."
Há tempos que médicos clamam que esses procedimentos são lucrativos a longo prazo para as próprias operadoras.

Novartis em Pernambuco

Finalmente uma boa notícia da Big Pharma. A Novartis instalará planta industrial em Goiana, Pernambuco para produzir e exportar vacinas para meningite. Segundo, Valor Econômico será uma das poucas empresas do complexo industrial saúde que exportará mais do que importará. Pena que o site da empresa não explica nada.

A queda dos homicídios em São Paulo: enfim um pouco de lucidez

A Folha de S.Paulo traz hoje um artigo muito bom do já famoso coronel José Vicente. O título é ótimo: mais polícia e mais escola. Abaixo, trecho do artigo.
"O sr. Sérgio Salomão Shecaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, argumenta ("Tendências/Debates", 30/ 10) que, além do esforço policial diferenciado, o fenômeno paulista se deveu também a outros fatores, como a recuperação do emprego e a retomada econômica. É curioso que esses fatores também tenham ocorrido em outras capitais sem que semelhantes resultados aparecessem. Em Porto Alegre, por exemplo, cidade com exuberantes programas sociais, os homicídios cresceram 16% no primeiro semestre, enquanto, na capital paulista, houve queda de 28%. O que fez diferença em São Paulo foi o sucesso na organização e na gestão do aparato policial, que quebrou o ciclo da violência e intimidou os criminosos após prender mais de 700 mil deles em sete anos. Nem o governo federal, nem os intelectuais, nem os tucanos reconhecem esse fato. Dois grandes entraves ideológicos prejudicam sistematicamente as medidas de redução da violência no país. Um deles é a mania de pensar o criminoso como vítima da pobreza e da injustiça da sociedade, concedendo-lhe, em decorrência, uma profusão de benefícios absurdos, como visita íntima nas prisões, liberdade provisória para autores de crimes hediondos, volta às ruas dos bandidos após cumprir um sexto da pena, ou considerando cruel e desumano o isolamento em cela individual dos piores criminosos. A pobreza não é fator criminógeno tão poderoso quanto a impunidade, cujo maior exemplo é o escárnio do criminoso paraibano Ronaldo Cunha Lima. Pobres, ricos, pretos, brancos, eleitos e eleitores cometerão menos crimes se forem intimidados por ações competentes e ágeis da polícia e da Justiça. Outro entrave é a descrença na capacidade do aparato policial, judicial e prisional de impor freios aos criminosos e reduzir a violência. ( clique aqui)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um limite para a judicialização da assistência médica (nos EUA)

Mitt Romney, ex governador de Massachusetts, candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano tem uma proposta melhor do que o do partido dele, mas inferior ao dos democratas para aumentar o acesso à assistência médica. Devido a isso, resolveu atacar um outro problema sério: os processos por má prática médica, uma praga que enriquece advogados e, torna a medicina como um todo defensiva, com custos elevados. (abaixo parte de reportagem da AP).
Aqui, essa praga não pegou porque médicos e hospitais não são tão ricos assim para compensar a "indústria do processo". Porém, temos outro problema sério na judicialização: os processos para aquisição de medicamentos de alto custo. Mas, isso é assunto para outro momento.
Romney: Cap Medical Malpractice Lawsuits
By DAVID PITT – 1 day ago DES MOINES, Iowa (AP) — Republican presidential candidate Mitt Romney on Tuesday called for placing a cap on medical malpractice lawsuits, a point that drew loud applause at an Iowa medical school. Romney focused on health care in an address to some 500 students and faculty at Des Moines University. As governor of Massachusetts, "I believe we have to enact federal caps on non-economic and punitive damages related to malpractice," Romney said. "These lottery-sized awards and frivolous lawsuits may enrich the trial lawyers but they put a heavy burden on doctors, hospitals and, of course through defensive medicine, they put a burden on the entire health care system." Romney also would encourage states to create health courts with judges experienced in handling medical liability cases and would ask states to adopt sanctions against lawyers and others who repeatedly file frivolous malpractice claims. "We've got to reign in the incessant cost of medical liability," he said.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Eleitorado americano quer mudanças no sistema de cobertura universal de saúde e mais gastos

The New England Journal of Medicine (acesso livre) debate o que se passará nos Estados Unidos depois da eleição presidencial, onde o tema "assistência médica " será o mais importante - como esse blogue insiste há mais de um ano - depois da questão Iraque.
A figura ao lado, reproduzida desse artigo, é o resultado de pesquisa da Kaiser Foundation, uma medicina de grupo da costa oeste americana. Essa enquete mostrou que mais da metade do eleitorado quer mudanças profundas.
A conclusão do artigo é uma síntese genial desse debate genuinamente americano sobre assistência médica. The 2008 presidential election will not resolve the debate over health care reform, but the results will go a long way toward determining the future of U.S. health policy. It would be a mistake, however, to read the candidates' plans too literally. A plan offered during the primaries usually looks different in key respects from the plan that a newly elected president takes to Congress, to say nothing of any legislation that Congress actually passes. Still, it is clear that there is a wide partisan gap on health care reform that reflects ideological divisions over the roles that government and market forces should play in the health care system. And the further U.S. health policy moves from incrementalism, the more that partisan divide is likely to be exposed.

Autoria fantasma: reproduzido sem comentário do blogue do The Wall Street Journal

Odd Ghostwriting Offer Raises Researcher’s Blood Pressure Posted by Jacob Goldstein (blogueiro do The Walt Street Journal; a figura foi adicionada por mim) Cornell researcher Jean E. Sealey was a bit surprised — and eventually outraged — by an email she received on Nov. 12 from an employee of Medicus International, a London-based consultant that helps drug companies publish research on their drugs. The email asked whether Sealey would be interested in authoring an abstract article for an upcoming meeting of the American Society of Hypertension. The article would discuss research on nebivolol, a high blood pressure drug from Forest Laboratories, and the “effects of nebivolol in men versus women.” Sealey, professor emerita of physiology and biophysics in medicine at the Weill Cornell Medical College, is a well-known expert in hypertension. But she was being asked to author a report on research she hadn’t conducted. In fact, she had never heard of the drug until receiving the email pitch. To Sealey, it appears the company was shopping for a name to slap on the cover of internal drug company research. “I was totally perplexed,” she says. “I surmised they wanted a name and maybe a woman because they were going to compare the drug in men versus women.” The email indicates the abstract would have to be submitted by Nov. 19 — just a week later. But the email assured Sealey that she wouldn’t have to do much work. “We can draft the abstract, offer our editorial support in developing the content of the abstract and help with the submission process on your behalf,” wrote Liz Burtally, who identifies herself in the email as a medical writer “for the nebivolol team working with Forest Laboratories.” Burtally sent another email on Nov. 13, and called Sealey the next day. Sealey asked a lot of questions. Would she be the only author? Yes, she says she was told. When Sealey asked if she would have access to the raw data, the phone went dead. Burtally never called or emailed again. The Health Blog called Burtally, who says she didn’t hang up on Sealey, but confirmed the call was cut off. She said Forest Labs had recommended Sealey for the authorship. Asked if it was common to ask someone to author an article on research they hadn’t conducted, she said “no, not really.” When told it appeared the company was offering to ghost write the abstract for Sealey, Burtally said she wasn’t sure what to call the proposed arrangement. She did say Forest wasn’t going to go forward with the planned abstract. A Forest spokesman said the abstract idea pitched to Sealey was for a sub analysis of data from already published studies. Under that circumstance, he said, the offer met guidelines established by the international association of medical journal articles. The Food and Drug Administration, meanwhile, is expected to make a decision by the end of the month on an application from Forest to sell nebivolol in the U.S

Variações temporais do suicídio

Ao lado encontra-se figura do artigo original Sunshine and suicide at the tropic of Capricorn, São Paulo, Brazil, 1996–2004 de autoria de Kennedy Nejar, Isabela Benseñor e Paulo Lotufo. Encontra-se disponível no site da Revista de Saúde Pública (acesso livre). O abstract segue abaixo:
Several studies have confirmed seasonal variation in suicide rates according to hours of sunshine. The suicide pattern was assessed in São Paulo, southeastern Brazil, at the tropic of Capricorn from 1996 to 2004. Poisson regression was employed to estimate parameters of seasonality, as well as to verify associations for each day between daylight duration and suicide. During the nine-year study period, there were 3,984 suicides (76.9% in men; median age=38.7 years old). Seasonal averages of suicides were similar, as were monthly averages. Poisson regression did not reveal any association between suicide rates and hours of sunshine (p=0.45) for both sexes. In conclusion, no seasonal pattern was observed for suicides.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Doença Cerebrovascular mata mais preto, depois pardos em São Paulo

A figura ao lado foi publicado nos Arq NeuroPsi (acesso livre) em artigo de minha autoria. Ele mostra a diferença por sexo das taxas de mortalidade pela doença cerebrovascular em São Paulo. Considerando as mulheres brancas (menor taxa) como padrão há 60% a mais de chance do homem branco na mesma idade morrer da doença. A mulher parda tem 40% a mais de risco, o homem pardo 90%, a mulher preta 100% e o homem negro 130%. Com esses dados quem continuar a afirmar que "negro morre de violência, branco de doença" está mal informado ou é racista, mesmo.

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (o fato)

O artigo que foi manchete da Folha de S.Paulo traz afirmativas, no mínimo, confusas. Não vou discutir que o perfil de mortalidade dos pretos é diferente dos pardos. Basta verificar os dados que os autores utilizaram os autores que motivou a matéria: o Datasus referente ao ano de 2005. Mas, vamos ficar somente na manchete do jornal.
Entre os classificados como pretos e pardos houve 366.082 óbitos, sendo 95.909 por doenças cardiovasculares, 62.095 por causas externas e 42510 por câncer. Ora, 95 mil é maior do que 62 mil, logo a afirmação não vale para ambos os sexos. Talvez, para o masculino. Mas, a má interpretação já foi feita. Quando se analisa, somente os homens, houve 54.073 mortes por causa externa e, 51.861 pelas doenças cardiovasculares. Mas, como a própria reportagem relatou há uma enormidade de óbitos mal definidos (quase sempre doença, raramente violência) entre os negros, revelando - concordo integralmente - um diferencial na qualidade da assistência médica. Ou seja, o risco maior dos negros é de morrer de doença cardiovascular e, não de violência.
Entro agora no título provocativo: "inocente útil". Os pretensos defensores da raça negra ao apresentar um dado - errado - permitiram que o jornalista fizesse um manchete que traz mais problema do que solução:"negros morrem de violência, brancos de doença". Isso é mentira! Negros têm maior risco de morrer seja de violência ou de doença. Precisam de acesso a unidades básicas de saúde, hospitais regionais e hospitais especializados. Precisam de cateterismo, transplante, quimioterapia etc etc etc
Esse discurso é a volta das do discurso "doenças de rico e doenças de pobre", agora "doenças de branco e doenças de negro".
Isso é retrocesso! A carga da doenças e dos agravos com violência se distribuem desigualmente na sociedade, afetando mais aqueles com menor capacidade de defesa social. Entre eles, pretos e pardos.

O inocentes úteis e o artigo escondido.

Esse artigo foi manchete da Folha de S.Paulo, no próximo post, explico os erros sérios apresentados no artigo. O texto não foi encontrado por mim utilizando PubMed, Scopus, Scielo, Google Schollar. Repete-se o mesmo com o trabalho da FGV sobre aborto e criminalidades. Não está publicado, mas já rende manchete. Acadêmicos podem e devem utilizar a imprensa, mas somente com artigos (livros, artigos originais, apresentação em congressos) que possam ser lidos e comentados pelos outros.
Violência é a maior causa de mortes entre homens negros Principais causas de mortalidade de homens negros são externas, como homicídios; brancos morrem mais de doenças, diz estudoDe 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34; entre os negros, aumentou de 52 para 61 ANTÔNIO GOISDA SUCURSAL DO RIO A desigualdade racial brasileira, já bastante dissecada a partir de indicadores de renda e escolaridade, pode também ser constatada pelo padrão de mortalidade de cada grupo. Entre os homens negros, a principal causa de mortalidade foram as externas (homicídios, acidentes e outras razões não-naturais). Entre os brancos, essas causas são o terceiro item mais comum, atrás das doenças do aparelho circulatório e das neoplasias (tumores).Além de negros -somatório de pretos e pardos no estudo- e brancos apresentarem padrão de mortalidade diferente em 2005, estudo dos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano, da UFRJ e do Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais, mostra que, desde 99, cresce a desigualdade entre os dois grupos quando se comparam as taxas de mortalidade por homicídios, HIV, tuberculose e problemas no parto.Em alguns casos, essa desigualdade cresceu porque houve melhoria dos índices entre brancos e piora entre os negros. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os homicídios. De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34 mortes. No mesmo período, a mesma taxa entre os homens negros aumentou de 52 para 61 por 100 mil.O estudo mostra que esse padrão de aumento da desigualdade aconteceu mesmo de 2003 para 2005. Nesse período, as taxas em ambos os grupos caíram, mas a queda foi mais intensa entre os brancos.Ao trabalhar com os microdados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do DataSus, Paixão e Carvano mostram ainda que, se é verdade que homicídios vitimam mais os negros, também é verdade que os acidentes de trânsito matam mais os brancos: a taxa entre pessoas brancas em 2005 foi de 20,8 mortes por 100 mil habitantes. Entre as negras, ficou em 17,1 por 100 mil.Especificamente quando se analisa os atropelamentos, os dados se invertem: 5,5 mortes por atropelamento por 100 mil habitantes, ante 5,1 mortes por 100 mil entre os brancos.No que diz respeito à mortalidade por HIV/Aids, os pesquisadores identificaram que o único grupo em que há redução de 1999 a 2005 é o de homens brancos. Nos demais (homens negros e mulheres brancas e negras), as taxas aumentaram.Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que, entre os negros, o percentual de mortes por causas mal definidas -um indicador de maior precariedade no atendimento médico- é muito maior. Entre mulheres, 15% das mortes em 2005 não foram definidas, percentual que cai para 8% entre brancas.Quando se compara a mortalidade por problemas no parto, novamente é verificada melhoria na razão de mortalidade das mulheres brancas, enquanto entre as negras as taxas pioram.RazõesA dificuldade nesse tipo de pesquisa, comparando as causas de morte entre negros e brancos no Brasil, é identificar o quanto desse diferencial é causado pela discriminação racial e o quanto é explicada por razões econômicas ou sociais. Ou seja, como os indicadores de pobreza e escolaridade são piores entre os negros, é de se esperar que eles tenham pior acesso aos serviços de saúde.Segundo Paixão, no caso dos homicídios, não há dúvida de que há um componente racial. "Nas demais causas de mortalidade, minha hipótese é: se vivem de forma diferente, logo, morrerão de forma diferente."No estudo, os pesquisadores afirmam que as razões das desigualdades precisam ser melhor estudadas: "Chamamos a atenção para a existência de causas de mortalidade que afetam de forma muito especial a população negra, em muitos casos tendo sido verificados aumentos nas desigualdades raciais em termos do número de afetados ou das razões de mortalidade".

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (origem)

Durante um bom período, discuti muito com sanitaristas que faziam um diagnóstico errado do perfil epidemiológico brasileiro: pobre morreria de doenças infecciosas e ricos de doença cardiovascular e câncer. A lógica deles propiciava um arranjo profundamente injusto: saneamento para os pobres e excelentes hospitais para os ricos, vide o InCor. Demorou para perceberem que a lógica da desigualdade social atua em quase todos os aspectos do binômio saúde-doença. Em outras palavras, o risco de doença cardiovascular e câncer é maior entre os pobres do que nos ricos. Somente, doenças que surgiram de fora, como a aids, tinham um padrão inverso, agora a realidade é inversa: o risco do HIV é maior entre os pobres. Todos estudos empíricos mostram que hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo são mais prevalentes entre pobres do que entre ricos ou (utilizando outra forma de medida) então entre os com menor escolaridade comparado àqueles com diploma universitário.
Voltando aos anos 80: esse raciocínio impediu que a tecnologia de atendimento à doença cardíaca se espalhasse nos hospitais da periferia. Afinal, para que? Conclusão, hoje o risco de morrer de doença cardíaca nos moradores dos bairros mais pobres é o dobro quando comparado ao dos residentes nos bairros afluentes. Bem, e o racialismo? Fica para o post seguinte.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Vacinação obrigatória mesmo

A vacinação obrigatória faz parte da história da humanidade. Agora, nos Estados Unidos, o sistema escolar está obrigando os pais a manter seus filhos com a "vacina em dia". Aqui, seria interessante afrontar a pseudo-ciência e religião que "condena" a imunização. Abaixo, o relato da AP.
UPPER MARLBORO, Md. (AP) -- Scores of grumbling parents facing a threat of jail lined up at a courthouse Saturday to either prove that their school-age kids already had their required vaccinations or see that the youngsters submitted to the needle. The get-tough policy in the Washington suburbs of Prince George's County was one of the strongest efforts made by any U.S. school system to ensure its youngsters receive their required immunizations. Two months into the school year, school officials realized that more than 2,000 students in the county still didn't have the vaccinations they were supposed to have before attending class. So Circuit Court Judge C. Philip Nichols ordered parents in a letter to appear at the courthouse Saturday and either get their children vaccinated on the spot or risk up to 10 days in jail. They could also provide proof of vaccination or an explanation why their kids didn't have them. By about 8:30 a.m., the line of parents stretched outside the courthouse in the county on the east side of Washington. Many of them complained that their children already were properly immunized but the school system had misplaced the records. They said efforts to get the paperwork straightened out had been futile. "It was very intimidating," Territa Wooden of Largo said of the letter. She said she presented the paperwork at the courthouse Saturday and resolved the matter. "I could be home asleep. My son had his shots," said Veinell Dickens of Upper Marlboro, who also blamed errant paperwork. Aloma Martin of Fort Washington brought her children, Delontay and Taron, in 10th and 6th grade, for their hepatitis shots. She said she had been trying to get the vaccinations for more than a month, since the school system sent a warning letter. She had an appointment for Monday, but came to the courthouse to be safe. "It was very heavy handed," she said of the county's action. "From that letter, it sounded like they were going to start putting us in jail." School officials deemed the court action a success. School system spokesman John White said the number of children lacking vaccinations dropped from 2,300 at the time the judge sent the letter to about 1,100 Friday. After Saturday's session, 172 more students were brought into compliance, including 101 students who received vaccinations at the courthouse and 71 whose records were updated. That still left more than 900 students out of compliance with vaccination requirements, White said. "Obviously, we still have some more work to do," he said. Any children who still lack immunizations could be expelled. Their parents could then be brought up on truancy charges, which can result in a 10-day jail sentence for a first offense and 30 days for a second. Prince George's State's Attorney Glenn Ivey couldn't say Saturday whether he would prosecute parents who fail to comply. "We have to sit down with school and health services," he said. "We haven't ruled anything out. We need to figure out where we stand." White said the school system, with about 132,000 students, has been trying for two years to get parents to comply with state law. That law allows children to skip vaccines if they have a medical or religious exemption. It was unclear how many medical or religious exemptions were involved. Maryland, like all states, requires children to be immunized against several childhood illnesses including polio, mumps and measles. In recent years, it also has required that students up to high school age be vaccinated against hepatitis B and chicken pox. Nichols said nobody actually came before him Saturday, but he was there if any parent asked to see him. The judge noted the unhappy looks of some of the kids in line waiting for vaccinations. "It's cute. It looks like their parents are dragging them to church," Nichols said. Several organizations opposed to mass vaccinations demonstrated outside the courthouse. While the medical consensus is that vaccines are safe and effective, some people blame immunizations for a rise in autism and other medical problems. "People should have a choice" in getting their children immunized, said Charles Frohman, representing a physicians' group opposed to vaccines. © 2007 The Associated Press. All rights reserved.

domingo, 18 de novembro de 2007

O consumo de benzodiazepínico: repórter compra receita

O Estado de S. Paulo relata pesquisa do CEBRID sobre o uso de benzodiapínicos no Brasil, entre jovens. O repórter comprou de um "homem-placa" no centro de São Paulo, receita falsificada e comprou o medicamento. Já alertamos da série epidemia de dependência a benzodiazepínicos, muitas vezes com beneplácito de médicos amigos. Leiam também o alerta de Elisaldo Carlini.
Um quarto dos jovens se droga com remédio Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli Marcelo, de 27 anos, mora com os pais e com o irmão mais novo, trabalha o dia inteiro, tem diploma universitário, namora sério, pratica esportes, faz planos para fazer uma pós-graduação no exterior e sai para a balada com amigos quase toda noite. Ele se considera um jovem “responsa”. Mas, ainda assim, precisa de ajuda química para dar conta da rotina pesada. “Maconha fumo eventualmente, mas não gosto muito. Prefiro o estimulante”, conta. “Não deixa cheiro, não dá bandeira em casa. Pode sair com ele na rua que a polícia não pega. E não deixa doidão. Você não corre o risco de pegar uma gorda achando que a mina é gata.”Marcelo pegou a dica do estimulante, do tipo anfepramona, na academia onde malha. Nas farmácias, uma caixa com 20 comprimidos custa, em média, R$ 17. Para conseguir comprar o remédio de tarja preta, ele pede a receita a um amigo médico. No começo da happy hour, Marcelo toma o remédio. Fica inteiro por toda a madrugada. No dia seguinte, volta a tomar para agüentar o treino na academia. “Parei porque com o passar do tempo você precisa aumentar a dose. Cheguei a tomar cinco de uma vez. Depois, quando o cansaço acumulado bate, você fica derrubado.”Nos Estados Unidos, jovens como Marcelo, que usam medicamentos que “dão barato”, ganharam um apelido: Geração Prescrição. E preocupam as autoridades. Pesquisa do Centro de Estudos sobre Drogas da Universidade de Columbia mostra que um em cada cinco jovens de 12 a 17 anos já usou medicamentos para fins recreativos. No Brasil, os índices são igualmente alarmantes e ainda pouco discutidos entre estudiosos e autoridades. O Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que entrevistou 7.939 pessoas em 108 cidades em 2005, apontou que 24,3% já usaram remédios vendidos em farmácias para fins recreativos. Lideram a lista os solventes (como éter e clorofórmio), seguidos de benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para aumentar apetite que são estimulantes) - sendo também mencionados xaropes à base de codeína, opiáceos, esteróides, barbitúricos e anticolinérgicos.FUGAO índice é ainda mais surpreendente por ficar bem acima do número verificado entre pessoas que consumiram drogas ilícitas. Disseram já ter usado maconha, cocaína, alucinógenos, crack, merla e heroína cerca de 14% dos entrevistados. “Em ambos os casos o jovem está atrás do barato, de uma alteração mental que o ajude a fugir da realidade. Mas apenas drogas ilegais ganham atenção do sistema policial, o que é um erro”, alerta Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo e um dos coordenadores do Cebrid.