sábado, 25 de novembro de 2006

A "falência" da saúde pública e os dois casos de sarampo no sertão baiano.

A imprensa anunciou com um certo estardalhaço dois casos de sarampo em cidade há mais de 400 km de Salvador. Trata-se de um um escândalo bom, afinal já estamos nos indignando com dois casos de sarampo em localidade pobre e distante de um grande centro. Há 20 anos, o sarampo grassava nas principais cidades, hoje, encontra-se controlado no país inteiro.
Esse é mais um dos fatos que o pregoeiros da "falência da saúde pública" desconversam, porque não admitem as melhorias introduzidas no país que atingem a toda a população. Há assuntos que não merecem destaque porque vão contra as bases da "falência da saúde pública" como a redução (1) da mortalidade cardiovascular; (2)dos homicídios em São Paulo; (3) da prevalência do tabagismo; (4) da incidência das doenças imunepreviníveis como o sarampo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

The Lancet: Pena de morte na Líbia para enfermeiras búlgaras e médico palestino.

Nature publicou o abaixo-assinado de cientistas exigindo um julgamento justo para os profissionais (cinco enfermeiras búlgaras, entre elas Valentina Siropulo na foto e um médico palestino) acusados pelo governo líbio de contaminarem crianças com o HIV em um hospital. Agora, The Lancet em editorial transcrito abaixo critica o governo líbio. No Brasil, silêncio. Um bom momento para um abaixo-assinado.
Leia a história completa na página do Human Rights Watch em
http://hrw.org/english/docs/2005/11/14/libya12013.htm onde há afirmação de que as confissões entre aspas foram obtidas - surpresa - sob tortura!
Free the Benghazi Six Their names are largely unknown, and their case has received far too little attention from the international and their own professional communities. Since 1999, five Bulgarian nurses—Valya Chervenyashka, Snezana Dimitrova, Nasya Nenova, Valentina Siropulo, Kristiana Valceva—and a Palestinian doctor, Ashraf Ahmad Jum'a, have been the victims of a miscarriage of justice in Libya. In that year, these six, who had been working since 1998 at al-Fatih Children's Hospital in Benghazi, were arrested and charged with deliberately infecting more than 400 children with HIV, and causing at least 40 deaths. They were denied legal representation until arriving in court for trial. In prison, according to human rights organisations, they confessed to the charges, after being tortured with electric shocks to their thumbs, tongues, breasts, and genitals; beaten with cables and sticks; menaced by police dogs; deprived of sleep, and raped. Some of the world's leading experts in HIV, including Luc Montagnier, the co-discoverer of HIV as the cause of AIDS, testified, on the basis of case records and genomic analyses done in Europe, that some of the children had been infected before the workers' arrival at the hospital. The HIV infections, the experts concluded, were caused by poor sanitary practices. But this scientific evidence was ultimately thrown out, and in 2004, the six were sentenced to death by firing squad. Nine Libyan health-care workers who were also charged in the case were acquitted. The six foreigners have been on death row ever since. The case was overturned by the Libyan Supreme Court, and a retrial granted. A verdict is expected on Dec 19. The Lancet unreservedly denounces this miscarriage of justice. A great deal is at stake here, including Libya's political and diplomatic future. Libya must acknowledge that this case has no legal foundation, and then move to correct the conditions that created the whole sorry situation in the first place. Reforming its broken health-care system and ultimately improving the health of its children and indeed all of its citizens, must begin with saving these six lives. The Lancet

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Big Pharma: termo pejorativo?

Leitores do blog questionaram o uso e abuso do termo Big Pharma, como se fosse mais uma forma de demonização do capitalismo por esquerdistas ou por ongueiros anti-globalização. Nada disso, o termo é largamente utilizado em vários jornais e revistas, como por exemplo, The Financial Times.
Big Pharma on a mission to woo Democrats By Stephanie Kirchgaessner in Washington Published: November 19 2006 20:05 Last updated: November 19 2006 20:05 The pharmaceutical industry was in the enviable position two years ago of having the right friends in the right places in Washington. Billy Tauzin, the Republican lawmaker, and Thomas Scully, who ran Medicare during President George W. Bush’s first term, were leaving their respective posts to lobby for the drugs industry after securing the addition of a pharma-friendly prescription drug subsidy in the federal healthcare programme for the elderly

Advergaming: a obesidade infantil

A indústria de alimentos está jogando com seus filhos? A pergunta foi feita por Patrícia Salber na página do Medscape (http://www.medscape.com) a partir de pesquisa feita pela Kaiser Family Foundation, "It's Child's Play: Advergaming and the Online Marketing of Food to Children. Advergaming são as mensagens de marcas em videogames online. Os advergaming promovem alimentos com densidade energética alta tal como cereais, biscoitos e lanches. Segundo ela, a indústria de alimentos está investindo milhões de dólares porque houve 12,2 milhões de visitas em três meses por crianças entre 2 a 11 anos nos advergaming Web sites. O estudo completo pode ser lido gratuitamente no site abaixo.
Moore ES. It's child's play: advergaming and the online marketing of food to children. A Kaiser Family Foundation Report. Menlo Park, California: Kaiser Family Foundation; July 2006. Available at: http://www.kff.org/entmedia/upload/7536.pdf Accessed August 23, 2006

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

30 de setembro: o dia da infâmia da segurança medicamentosa

Jerry Avorn na edição de hoje (22/11/06) do The New England Journal of Medicine afirma que essa data deverá sempre ser comemorada com um conferência sobre riscos de medicamentos. Afinal, em 2004, a Merck Sharp & Dohme retirou o Vioxx do mercado e, em 2006, o caso Transylol foi revelado pela imprensa. No mesmo número do NEJM, William Hyatt analisa o caso Trasylol com críticas ao FDA. Ambos os textos -relativamente simples e acessíveis a leigos - podem ser lidos gratuitamente em http://www.nejm.org.
O BLOG noticiou e explicou o caso Trasylol, justamente no dia 30 de setembro (releiam abaixo)
Bayer nega informação ao FDA: o caso Trasylol Como apresentado no post anterior, parece que o FDA está menos submisso aos interesses das indústrias farmacêuticas. Ontem (29/09/06), a agência denunciou a Bayer de não informar sobre estudo de segurança do medicamento Trasylol (aprotinina) em reunião realizada há uma semana para verificar a segurança do medicamento. A história é interessante. O tratamento do infarto do miocárdio implica em uso de trombolíticos e antiagregantes plaquetários, porém quando há indicação de cirurgia cardíaca há necessidade de ministrar um anti-fibrinolítico para evitar sangramentos. Há três medicamentos no mercado mundial, o ácido epsilon aminocaproico, o ácido tranexamico e a aprotinina. Os dois primeiros são análogos da lisina e a última substância um inibidor da protease com ações semelhantes e, preços bem distintos, inclusive no mercado brasileiro. O Trasylol é exclusividade Bayer. Em janeiro de 2006, The New England Journal of Medicine publicou estudo observacional comparando os três medicamentos com um grupo controle que mostrava risco maior de insuficiência renal, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral. Depois dessa publicação, o impacto foi grande e, obviamente a tentativa em desacreditar os autores foi grande, porém o FDA foi obrigado a fazer um painel a respeito do problema Trasylor que terminou com conclusão favorável ao uso do medicamento. Porém, ontem se revelou que a Bayer ocultou resultado em 65 mil pacientes, aparentemente com resultados apontando para risco maior para quem recebeu a medicação. O texto básico - um estudo observacional - pode ser lido na íntegra na página http://www.nejm.org para leitores cadastrados gratuitamente. Mangano DT et al The Risk Associated with Aprotinin in Cardiac Surgery. N Engl J Med 2006;354:353-65.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Ortotanásia: a imprensa faz um bom papel

Observei com atenção a repercussão da decisão do Conselho Federal de Medicina sobre a ortotanásia. Algumas conclusões:
1. a imprensa saiu-se bem com reportagens boas e, articulistas argutos que perceberam a diferença entre eutanásia e a morte. O comentário mais contundente foi em O Globo (21/11/06) de Rosiska Darcy de Oliveira. Quase impossível acessar a versão eletrônica do jornal, o email da autora apresentado no artigo é rosiska.darcy@uol.com.br.
2. a manifestação da Igreja Católica foi vista como estranha para quem não a conhece. Simples, a doutrina católica não admite que se mate (como nos casos polêmicos na qual ela se envolve, como o aborto e a pena de morte) mas aceita que se morra. O título do artigo de Rosiska diz tudo "Quando sai o médico e, entra o padre".
3. a inevitabilidade da morte foi difundida de forma ampla após essa resolução e, esse fato é importante para reverter a idéia e a proposição de que a medicina alcançou ou alcançará a vida eterna. O impacto nos custos hospitalares poderá ocorrer com a redução de internações desnecessárias em terapia intensiva.

Indústria farmacêutica nos EUA faz acordo sobre propaganda na TV

Nos Estados Unidos, ao contrário da maioria dos países é permitida a propaganda de remédios na televisão e na mídia impressa há aproximadamente 15 anos. Várias vezes há equívocos sérios no que é veiculado, motivando a intervenção do Food and Drug Administration, que por sua vez não tem recursos suficiente para analisar todas as propagandas. Um acordo foi estabelecido entre as indústrias e o FDA para que haja pagamento para análise das propagandas em troca de um aumento na velocidade processual de novos fármacos.
A propaganda de remédios na televisão é um erro, mesmo em país onde há necessidade de receita médica para a compra. Ela induz um consumo inadequado e indesejado e, expõe os médicos a pressões por parte dos pacientes, introduzindo um aspecto ruim na relação médico-paciente. Além disso, ela consome uma quantidade enorme de recursos que poderiam estar sendo repassados aos consumidores.

A maioria democrata e os genéricos.

A relação entre o Partido Republicano e a Big Pharma sempre foi evidente e escancarada. Agora, com a maioria democrata controlando entre outros postos, a comissão de saúde da Câmara (House) preve-se um estímulo maior ao uso de genéricos e maior financiamento para a divisão do Food and Drug Administration que aprova os novos genéricos. Além disso há possibilidade que a lei dos genéricos de 1984 seja emendada ou substituída por outra que permita ao FDA autorizar os genéricos de produtos biotecnológicos. Informação do The Wall Street Journal (21/11/06)

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

O socialismo tolo de economistas do BNDES.

Auguste Bebel (1840-1913) foi líder da social-democracia alemã no século XIX, companheiro de Marx e Engels e, autor de uma frase histórica que costuma ser creditado aos outros dois mais famosos: "o anti-semitismo é o socialismo dos tolos". Hoje (20/11/06), na Folha de S. Paulo, três economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, jovens ainda para cometer tolices, afirmam entre outras coisas que "...os resultados deletérios não atingem só o Nordeste. A concentração populacional em São Paulo torna a cidade ingovernável. O desemprego favorece a violência. O preconceito é reforçado: boa parte da elite paulistana acredita que tais problemas são causados pelos nordestinos. " Eles lançaram o manifesto do "antipaulistismo". Discutir política fiscal desigual é uma coisa, acusação de preconceito é outra bem distinta. Calma lá! São Paulo é uma cidade inclusiva, ou menos exclusiva que as demais capitais. Há 120 anos, ela praticamente não existia, italianos, portugueses, japoneses, árabes, alemães a construíram na primeira metade do século, depois brasileiros de outras regiões continuaram a tarefa junto com judeus, coreanos, italianos do pós-guerra. Hoje, uma comunidade boliviana se insere cada vez mais no cotidiano de parte da cidade.
Essa nova modalidade de atuação pública de criar polêmica, conseguir platéia e, depois montar uma ONG com verbas públicas já tem sido aplicado em outros setores, como meio ambiente, questão racial, agora, talvez haja interesse na questão regional, visto que a concorrência nas demais áreas é grande. O problema maior é que os três signatários são empregados de empresa pública que decide investimentos no país.
Voltando a Bebel, o "antipaulistismo é o socialismo dos tolos".

Esquenta a briga pelos genéricos a $4 nos EUA

A rede Target que possui mais de 1200 lojas nos Estados Unidos decidiu entrar na briga direta contra o Wal Mart que está vendendo medicamentos genéricos para um mês por 4 dólares. A Wal Mart tinha começado na Flórida e, depois em outros estados. A Target está presente em 47 estados americanos. Espera-se que a CVS e Walgreen´s outras duas redes importantes farmacêuticas também entrem em processo semelhante de vendas.

Genética e Ambiente: acesso livre na web

Genes, Behavior, and the Social Environment: Moving Beyond the Nature/Nurture Debate.
The National Institutes of Health (NIH), Office of Behavioral and Social Sciences Research National Human Genome Research Instituteand the National Institute of General Medical Sciences, 2006Committee on Assessing Interactions Among Social, Behavioral, and Genetic Factors in Health, Lyla M. Hernandez and Dan G. Blazer, Editors Acesso online em : http://www.nap.edu/catalog/11693.html As part of a strategy to determine how best to integrate research priorities to include an increased focus on the impact on health of interactions among social, behavioral, and genetic factors, the National Institutes of Health (NIH), Office of Behavioral and Social Sciences Research, in conjunction with the National Human Genome Research Institute and the National Institute of General Medical Sciences, requested that the Institute of Medicine undertake a study to examine the state of the science on gene-environment interactions that affect human health, with a focus on the social environment…..” Table of Contents Summary 1 Introduction 2 The Impact of Social and Cultural Environment on Health 3 Genetics and Health 4 Genetic, Environmental, and Personality Determinants of Health Risk Behaviors 5 Sex/Gender, Race/Ethnicity, and Health 6 Embedded Relationships Among Social, Behavioral, and Genetic Factors 7 Animal Models 8 Study Design and Analysis for Assessment of Interactions 9 Infrastructure 10 Ethical, Legal, and Social Implications 11 Conclusion Appendix A Methodology: Data Collection and Analysis Appendix B Recommendation from the National Academy of Sciences Report Appendix C Social Environmental and Genetic Influences on Obesity and Obesity-Promoting Behaviors Appendix D The Interaction of Social, Behavioral, and Genetic Factors in Sickle-Cell Disease Appendix E Modern Epidemiologic Approaches to Interaction: Applications to the Study of Genetic Interactions