sábado, 18 de novembro de 2006

As formas de morrer durante a história: agora, anorexia.

As três revistas semanais apresentam a mesma capa com a modelo que morreu vítima de anorexia. Nesse sábado (18/11/06), outro caso fatal foi noticiado em aluna do curso de moda no interior de São Paulo. As explicações foram várias, muito se falou em serotonina e seus derivados, outros na ganância e, por fim uma solução: as agências de modelo irão pedir atestado médico!
Para a epidemiologia e para os estudiosos da história das doenças não há novidade na cadeia causal básica. Cada momento da história, o homem cria e inventa novas formas de viver, de se reproduzir e de morrer. Quando os primeiros Homo sapiens vagavam pelo planeta, viviam catando e coletando alimentos e morriam de causas acidentais e, de fome quando não encontravam nada para se alimentar. Depois, quando domesticaram animais passaram a sofrer de infecções transmitidas por bois, porcos, aves e cavalos que eram fundamentais para a sobrevivência, mas eram e são portadores de vírus e bactérias que causam doença no homem. Recentemente, o surgimento do carro, da automação e da revolução agrícola contemporânea deixou a fome como marca do passado (ou da desigualdade cruel do presente) porém trouxe a epidemia da obesidade e do diabetes.
No caso das três capas, a idealização do ideal de beleza que é veiculado em capas de revistas femininas e de notícias (como a três acima) estimulou um padrão de comportamento em cujo extremo há casos letais. Um teste interessante será conferir na coleção dessas revistas quantas vezes houve destaque para "moda", "luxo", "padrão de beleza", "anti-evelhecimento".

Kerry, Itamar e os remédios.

Na edição de 17/11/06 do The Wall Street Journal há duas notícias sobre medicamentos: uma que a campanha de verdas da Wal Mart de genéricos as 4 dólares, testada na Flórida desde setembro foi espalhada para 31 estados devido ao sucesso obtido. Outra noticia foi a respeito da disputa entre Teva e Ranbaxy, de Israel e India, respectivamente, com o FDA sobre o período de exclusividade do genérico da simvastatina. Um tribunal federal apoiou a ação das duas empresas, com tem ocorrido sistematicamente quando o assunto é "medicamento genérico vs medicamento de marca."
Há dez anos quando estava em Boston, terra de John Kerry e, a lembrança de Itamar Franco reclamando contra os preços de remédios era fresca, fez surgir uma idéia: Itamar seria eleito senador em Massachusetts ser lançasse a proposta do genérico e remédios baratos. Tudo isso porque os idosos e, não idosos, reclamavam muito do preço dos remédios. Agora, penso, se o candidato democrata, o senador John Kerry, tivesse se inspirado em Itamar, talvez o resultado fosse outro.

Alimentos e elixires da Amazônia: um despacho estranho da Reuters

A Reuters lançou um press-release pouco informativo, mas cheio de dicas sobre as benesses de produtos acadêmicos a partir de um relatório da Mintel, que não foi achado na página eletrônica da empresa. Quem souber mais sobre o tema, que se manifeste.
LONDON (Reuters) - Amazonian superfoods and anti-ageing elixirs are likely to set the trend on supermarket shelves next year, a report said on Thursday. Exotic drinks and beauty products based on indigenous resources from the Amazon and personal grooming items for older men are among the top 10 growth areas predicted by trendspotters at Mintel. Many of the forecast trends are based on growing consumer calls for ethical and environmentally friendly products. "Consumers all round the world are being asked to take a stand and make fundamental changes to their lifestyle, for the sake of the planet's future," said Mintel's David Jago. The survey said beauty products containing Amazonian botanicals believed to have strong health benefits have already caught on in France and are likely to feed into the fashion for food and cosmetics using natural ingredients in the UK. Male baby boomers, now reaching retirement age, are seen as a new growth market for the beauty industry. Teenagers are another key target because of the potential to cultivate brand loyalty that lasted into adulthood. Packaging is also a strong theme, with manufacturers expected to use more biodegradable or refillable packets. Mintel forecast consumer concern about the world's natural resources and how their goods are made would continue to push ethical labelling like Fairtrade into the mainstream. "This will also help to highlight local and seasonal products, symbolizing a return to fresher ingredients that have more of a community-orientated tie," it said

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Violência boa é que aumenta, declínio não interessa

Leio na página eletrônica de O Estado de S. Paulo, o texto reproduzido abaixo da Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI) que informa que houve aumento dos homicídios entre 1994 e 2004. Sim, é verdade, mas essa tendência agora é declinante, como o próprio relatório apresenta. O autor comete uma impropriedade ao afirmar que a queda foi por causa da campanha do desarmamento. Não há explicação única tanto para o aumento como para a redução das taxas de mortalidade. O autor trabalhou com dados secundários, disponíveis a qualquer pesquisador no ótimo banco de dados do Datasus, por isso suas conclusões merecem críticas. Seria melhor enfocar a questão da violência nas escolas, onde a OEI tem tradição.
Já critiquei que a redução das taxas de homicídios são escondidas nas páginas internas, tanto de O Estadao de S. Paulo como na Folha de S.Paulo. Essa semana, Veja Sao Paulo deu capa sobre o assunto mostrando a queda relevante. Mas, amanhã essa "nova" pesquisa será destaque em toda a imprensa. Aguardem!
Homicídio entre jovens aumentou 64,2% de 1994 a 2004 Relatório aponta alta taxa de mortalidade de jovens por causas violentas Ligia Formenti BRASÍLIA - Relatório preparado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI) traduzem em números a tragédia crescente a que a sociedade brasileira passou a conviver: a alta taxa de mortalidade de jovens por causas violentas, principalmente homicídios. Entre 1994 e 2004, o número de homicídio subiu 48,8%, quando se avalia o total da população. Entre os jovens, esse ritmo foi bem mais acentuado, com crescimento de 64,2%. O estudo mostra que houve uma pequena redução no ritmo de crescimento de homicídios entre 2003 e 2004, atribuído à Campanha de Desarmamento. O autor do trabalho, Julio Jacobo Waiselfisz, no entanto, adverte que tal redução dificilmente irá se manter, caso campanhas semelhantes ou outras políticas não sejam adotadas. Entre 2003 e 2004, a taxa geral de homicídos caiu 5,2%. "Foi um número expressivo, sobretudo quando levamos em conta o fato de o índice quebrar uma tendência de crescimento, que vinha se acentuando até 2003", diz.

Previdência privada acoplada a seguro-saúde: uma boa saída para o problema do idoso.

O Globo revela (16/11/06) revela que há estudos em fase final para vincular a previdência privada complementar ao seguro-saúde já em 2007. Com isso, o idoso após aposentadoria poderia ter cobertura para assistência médica junto com o pecúlio/renda mensal da previdência contratada, além daquela do INSS. A Associação Nacional de Previdência Privada articula com o governo algum tipo de isenção de impostos, que segundo eles, seria uma forma de reduzir a pressão dos idosos, após aposentadoria, nos hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Seria uma solução para uma parcela que consegue pagar a previdência privada, mas quando privada do seguro-saúde se desvia para o serviço público com maior força de pressão do que os usuários do SUS. Esse tema é da maior importância para o Sistema Único de Saúde e, mereceria a máxima prioridade do Excelentíssimo Senhor Presidente da República e de toda a sua equipe ministerial. Porém, quem faz lobby para os idosos? Agora, pressão para os "filhos pródigos" é que não falta, principalmente na imprensa e, na bancada governista.

Lula e o filho pródigo

Depois do Sermão da Montanha, a parábola do filho pródigo, minha grande divergência com o Evangelho. Será minha manifestação sobre o tema que ocupa manchetes e noticiários nos últimos dias.
Disse Jesus: Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte do patrimônio que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. Poucos dias depois ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou sua herança vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome: e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Entrando então em si e refletiu: <>. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse então: <>. Mas o pai disse aos servos: <>. E começaram a festa...

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Pós infarto do miocárdio: angioplastia e stent iguais ao tratamento clínico

Na fase aguda do infarto do miocárdio há vantagem na desobstrução das artérias coronárias com angioplastia e, talvez com stents. O raciocínio se estendeu para aqueles pacientes com atendimento depois 12 horas. Ontem, na American Heart Journal foi apresentado estudo com 2166 pacientes com oclusão total da artéria relacionado ao infarto com de 3 a 28 dias pós-infarto. Depois de 4 anos de comparação de angioplastia/stent versus tratamento clínico, os resultados mostraram que a taxa de novo infarto, morte, aparecimento de insuficiência cardíaca foram iguais nos dois grupos. O texto completo pode ser lido na página do The New England Journal of Medicine: http://www.nejm.org.
Esse resultado é mais um tranco na indústria do stent, Johnson & Johnson e Boston Scientific, mas pode significar um apoio maior a quem produz medicamentos para redução de colesterol, de pressão arterial e, adesão plaquetária.
A responsabilidade de médicos e farmacêuticos aumenta e, a necessidade de centros especializados de cardiologia se reduz no contexto da prevenção secundária do infarto do miocárdio. Mesma qualidade, a menor preço para a sociedade.

Ainda, o resultado a eleição americana e a Big Pharma

The Wall Street Journal (15/11/06) traduz (abaixo) em número os efeitos a mudança no Congresso americano. Informa também que as mudanças nas posições de direção irão aumentar nessas empresas. Para quem não está seguindo a questão Big Pharma, o Medicare (atendimento da idosos) financiado pelo governo americano não pode negociar para baixo o preço dos remédios. Uma versão ianque da nossa falecida CIPA dos anos 80 (comissão interministerial de preço) que sempre deixava o preço mínimo ao gosto da empresa, criando verbo "cipar".
Outro aspecto não dito na reportagem é que os interesses da Big Pharma passaram a ser do Estado americano, perdendo somente para o da já famosa indústria do petróleo. O Brasil sofreu vários ataques por causa da política de genéricos e, principalmente na atenção medicamentosa à aids.
Since Election Day, drug stocks have gotten clobbered. Pfizer, Wyeth, Eli Lilly and Novartis have tumbled 5% or more; GlaxoSmithKline, Merck and Johnson & Johnson are down 4% or more; and Bristol-Myers Squibb is down 3.5%.. Add it up, and you've got nearly $50 billion in market value wiped out by Democratic victories. That's the price big pharma is paying for a badly bungled political strategy. For years, the industry operated on the assumption it could get what it wanted out of Washington. Then, when the going got tough, it doubled down on Republicans and ignored a groundswell of public anger over high drug prices.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

O prolongamento da vida e o Sermão da Montanha

Da coluna de Jânio de Freitas (Folha de S. Paulo 14/11/06) sobre a decisão do Conselho Federal de Medicina, da omissão do Ministério da Sáude e, da oposição de alguns setores da OAB sobre o prolongamento de medidas artificiais para prolongar a vida, sem outro objetivo, se não de prolongar artificialmente a vida:
Seja o que digam as leis atuais e representantes desta ou daquela seção da OAB, e seja o que o governo decida ou nem decida, uma certeza se tem desde sempre: a medicina não inclui, entre suas finalidades, os sofrimentos inúteis. Quem deseje preservá-los, deve inscrevê-los sob outro nome que não o de medicina.
Aproveito para comprar uma salutar "briga" com amigos médicos e advogados ao mesmo tempo: há compatibilidade entre ser médico e advogado? Lembro o Sermão da Montanha, onde há algo como "não servirá a dois senhores ao mesmo tempo" .

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Decisão inédita da Justiça impede extensão de patente no Brasil

A Folha de S. Paulo (13/11/06) informa que a juíza federal Márcia Nunes de Barros do Rio de Janeiro não acatou a solicitação da Sanofi-Synthelabo em estender até 2013 a patente de Plavix (comercializado pela Sanofi-Aventis e, também pela Bristol-Myers Squibb como Iscover) tal como entendeu a justiça francesa. A juíza brasileira seguiu o interesse público e, também o decidido pela justiça americana que permitiu a importação do genérico do Plavix/Iscover, clopidogrel fabricado no Canadá. A patente do Plavix expirará no Brasil em março de 2007.
Uma saída para os dois laboratórios que comercializam o clopidogrel será lançar o genérico rapidamente, ao mesmo tempo solicitar que o Ministério da Saúde, o inclúa na fórmula de co-pagamento ("Farmácia Popular").

domingo, 12 de novembro de 2006

Idosos e Planos de Saúde: qual a saída?

Leitores e amigos do blog reclamam das notícias sobre seguradoras que planos individuais. Somente ressalto o que ocorre e, destaco duas características: primeiro, as seguradoras estão mais responsáveis do ponto de vista fiscal, afinal em lugar nenhum do mundo, apólices eram negociadas na frente de hospitais; segundo, a situação dos idosos e desempregados que outrora tinham planos individuais ou empresariais, piora dia a dia, porque não há opção, a não ser disputar e entrar nos hospitais públicos. Como essa fração da população costuma ter mais influência, especulo que ela estará ou já está "expulsando" o setor menos reinvidicativo da sociedade que sempre teve com única escolha, os hospitais públicos.
Esse tema é deveria interessar
(1) aos sindicatos de trabalhadores: nos dissídios com empresas que patrocinam planos empresariais de saúde lutar por estender os planos aos aposentados da categoria, incluir ascendentes, por exemplo;
(2) empresas de medicina de grupo: negociar planos com franquia para consulta e exames mais simples, mas garantir internação e cirurgia;
(3) farmácias: estender o sistema de contrapagamento para idosos;
(4) laboratórios privados: fornecer exames a preço da tabela SUS a idosos;

O caso torcetrapib: A Pfizer punida pela American Heart Association

A American Heart Association inicia nessa semana a principal jornada de cardiologia, esse ano em Orlando na Flórida. A Pfizer foi proibida pela organização em apresentar os dados sobre o torcetrapib, substância que eleva a fração HDL do colesterol, porque há 10 dias liberou para a imprensa informações relativa ao efeito indesejado na pressão arterial no uso do medicamento. A associação está no direito dela, qualquer pessoa que apresente trabalho em congresso sabe porque assina o compromisso em não divulgar a informação previamente. A desculpa da empresa - o alto interesse do tema - não justifica o ocorrido. O importante é que pela primeira ( ou talvez segunda ou terceira, mas nunca pela quarta vez), uma associação de especialista bate de frente com um representante da Big Pharma, no caso o maior deles.