sábado, 12 de maio de 2007

O complexo cervejeiro-publicitário-midiático se arma

Há quase duas décadas que houve a transformação da preferência de bebida alcóolica de aguardente para cerveja. A Pitu, Velho Barreiro, Tatuzinho e 51 foram perdendo mercado para gigantes como Antarctica e Brahma que se fundiram, mas mesmo assim ganharam concorrente com Schin e Kaiser. Desde então passaram a torrar muito dinheiro em todas as mídias possíveis, principalmente na corrupção ativa de artistas, "famosos" e até "pessoas públicas" com os camarotes no carnaval, show de rock, fórmula 1 etc etc. (as festas de lançamento de produtos da Big Pharma -cada vez mais raras - não se comparam à mordomias das cervejeiras) Como se sabe, se por um lado, a fermentação e o álcool acompanham a história do homem desde o surgimento da agricultura, com episódios de embriagues descritos na Bíblia, o uso do álcool necessita ser controlado e desestimulado, não somente com o "beba com moderação". Com certeza controlar a publicidade é fundamental. Mas, será difícil ao Ministério da Saúde enfrentar a avalanche de pressões vinda de todos as empresas jornalísticas, agências de publicidade e das cervejeiras. Mas, não há porque recuar na proposta a ser votada pela ANVISA.

Os 100 mais influentes pelo Time magazine

A revista Time em matéria de capa lançou os 100 mais influentes. Nenhum brasileiro. Na área da saúde somente dois: Judith Mackay e Steven Nissen. Mackay é inglesa de Hong Kong e lidera há décadas a luta antitabágica, o Tobacco Control, dentro e fora da Organização Mundial da Saúde. Eu a conheci há 13 anos, meio por acaso, quando errei ao entrar em um sala de congresso e, assisti a uma ação para banir o cigarro nos viagens de avião. Achei interessante, mas inviável. Pouco tempo depois essa regra tinha sido aplicada no Brasil, com reclamação, mas com aceitação ampla. Depois, eu fui um dos divulgadores do seu Atlas do controle do tabagismo. A cruzada antitabágica continua principalmente na Ásia, África e, no Rio Grande do Sul! Nissen foi um dos pioneiros em mostrar os riscos dos antiinflamatórios não hormonais tipo Cox-2. A Big Pharma e "acadêmicos brasileiros" fizeram tudo para desmoralizá-lo. Tiveram que ceder à realidade.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Pesquisa em Saúde no Brasil: relatório COHRED

No relatório anual do Council on Health Research for Development (COHRED) há contribuição de Suzanne Serruya, diretora do Departamenteo de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde no capítulo Research for Health in Latin América. O texto completo pode ser acessado clicando o título do post.

Mais sobre o HPV: os limites da liberdade

O mapa americano ao lado mostra os estados em magenta onde foi aprovada a vacinação obrigatória para o papilomavírus para meninas entre 11 e 12 anos porque isso preveniria câncer de colo uterino. Em marrom, onde a proposta foi recusada e em verde onde há discussão. No momento há somente uma apresentação comercial, o Gardasil da Merck e, em breve haverá o Cervarix da Glaxo Smith Wellcome. Nessa semana, The New England Journal of Medicine - de onde esse mapa foi retirado - está debatendo (clique no título do post) a questão sob o ponto de vista ético, visto que o editorialista aceita a versão técnica do Center of Disease Control favorável à inclusão da vacina no calendário de imunização. Por sinal, decisão facilmente constestável novamente do ponto de vista técnico, vide o editorial - aqui reproduzido - da semana passada em JAMA. O debate que está florescendo nos Estados Unidos é sobre a liberdade dos pais em vacinarem ou não filhos e, principalmente da iniciação sexual. Porém, o mais importante é que ao contrário das reações históricas de todas as sociedades contra vacinas, nesse caso não porque exigir que a aluna confirme estar vacinada para algo que somente é transmitido sexualmente e, cujo impacto em outro indivíduo será remoto.

Explicando melhor com exemplos: (1) ao não vacinar seu filho contra sarampo - fato corriqueiro em famílias progessistas com médicos homeopatas nos anos 80 em São Paulo - esses pais colocaram de fato em risco a vida do filho e de seus colegas, porque o colega vacinado não necessariamente estava imunizado ( eficácia vacinal é de 95%), ou seja há risco de infecção mesmo em quem for vacinado. Por isso torna-se obrigatório reduzir a circulação de vírus na população infantil. Nesse caso, a imposição faz todo sentido, porque a sua liberdade não pode causar mal a terceiros, lembrando Stuart-Mill. (2) não vacinar uma menina para o papilomavírus aos 12 anos, não sigficará nada para a sociedade, para terceiros por vários motivos e, para ela própria. Por vários motivos, cujas variáveis, nem ela, nem os pais, nem niguém consegue estabecer, como ela se manterá virgem ou terá poucos parceiros ou mesmo infectada fará exames citológicos de prevenção ou uma enorme de chances outras. Lembro que o Gardasil cobre 70% dos tipos de papiloma associados ao câncer.

Ou seja há tantos condicionais, que há necessidade de se verificar quais são os grupo de "alta vulnerabilidade" e, aí sim atuar de forma decisiva e, obviamente com a força do estado aplicado a vacina gratuitamente.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Eleição na Cardiologia: um candidato

A Sociedade Brasileira de Cardiologia tem um sistema próprio e interessante de democracia interna com rigor federativo. Há cada dois anos é eleito um presidente que assumirá somente dois anos depois. Há um rodízio nessa ordem: um nome do Sudeste- um do Norte-Nordeste- um do Sudeste - um do Centro-Oeste e Sul -um do Sudeste e, assim sucessivamente. O Centro-Oeste há tempos não elege um presidente, ao contrário do Sul.
Esse blogue não toma partido em disputas eleitorais, a princípio não é contra ninguém, mas é a favor. Na eleição da sociedade médica mais organizada, um nome recomendado é o de Paulo César Veiga Jardim para o período 2010/2011 com eleições em primeiro turno em junho de 2007. Ele foi graduado pela FMUSP em 1974 e conquistou o doutorado em cardiologia pela mesma Faculdade. Goiano, voltou a sua terra para clinicar e participar da vida da Universidade Federal de Goiás onde foi diretor da Faculdade de Medicina entre 2002-06. Atua na área de hipertensão arterial com trabalhos publicados e apresentados em eventos nacionais e internacionais. Além dos méritos profissionais e acadêmicos é antes de mais nada um conciliador, um nome para representar a cardiologia brasileira.
O processo eleitoral da Sociedade Brasileira de Cardiologia pode ser visto na sua totalidade em http://www.cardiol.br

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Clinton releva a quebra de patentes do efavirenz

Na página A9 do NYT está uma reportagem sobre a fundação de Bill Clinton apoiando o barateamento dos genéricos para aids. A matéria merece ser transcrita na íntegra, mas estou somente com o papel, sema assinatura eletrônica. Vou somente citar a frase do ex-presidente:
"No company will live or die because of high price premiums for aids drugs in middle-income countries, but patients may".
A ação brasileira causou mais problema para a Big Pharma do que ela propiciará a nós. No entanto, a política da canhoneiras ainda é uma ameaça a vários países. Obviamente, várias associações comerciais americanas irão bater pesado (eu adora elas, gostaria que as nossas fossem iguais defendendo o que é nosso) contra a quebra legal de patentes.

Teste prénatal, esterilidade, aborto, Down: eugenia

Para um cidadão "pro choice", mas um indivíduo "pro life", nunca consegui entender e, como médico indicar os testes pré-natais para verificar "anormalidades". Também, nunca consegui entender a busca pela fertilidade de forma impulsiva e, na maioria das vezes sem qualquer tipo de esclarecimento ao casal. Passei essa semana, vendo reportagens na TV americana sobre o drama da esterilidade. Hoje, também na primeira página do NYT, há reportagem dos familiares de crianças,jovens e adultos com Down questionando a prática do exame pré natal. Principalmente, por que o American College of Obstetricians and Gynecologists "have begun to offer a new safer screening procedure to all pregnant women, regardless of age". Além de discutir a descriminalização do aborto - na verdade a extensão aos pobres de serviço já à disposiçãos dos remediados - há necessidade de questionar ética e moralmente os testes pré natal e os procedimentos de esterilidade.
Para mim, os testes pré natais serão no futuro considerados com mais uma das ondas eugênicas que envergonham a humanidade. Lembro que estatísticos com Fischer e Pearson eram defensores da eugenia nos anos 30, ou seja, não valem créditos acadêmicos para defender esse procedimento.

NYT: médicos faturam milhões com droga para anemia

Na primeira página do NYT noticia que "doctors reaping millions" que traduzi no título acima. Trata-se de pagamentos a oncologistas e nefrologistas para o uso da eritropoetina. A empresas são a Johnson&Johnson e a Amgen (no Brasil associada recentemente `a Mantecorp) que vendem no mundo inteiro um valor de 10 bilhões de dólares. O NYT revelou que somente um grupo médico - Pacific Northwest - recebeu $2,7 milhões e, prescreveu o equivalente a $9milhões. Por outro lado, o FDA apesar de considerar legal tal prática, não considera indicação correta na maioria dos pacientes com câncer.
Bem e, o Brasil:
Quase 100% da eritropoetina é paga pelo SUS (onde está a "falência' da saúde pública??), ou seja mesmo pacientes que pagam cirurgia e internação recebem o medicamento gratuitamente (nada contra). A questão agora é investigar qual o relacionamento da indústria com os médicos. a Johnson & Johnson demitiu há meses um executivo envolvido em corrupção fora dos EUA, mas não revelou qual ou quais países. Uma proposta para o SUS considerando que não há essa prática no país -condenada eticamente- é que se obtenha um desconto de (2,7/9), ou seja 30% no preço das eritropoetinas. Justo, não?

segunda-feira, 7 de maio de 2007

As dependências precisam entrar na agenda da saúde pública

O caderno de resenhas do The New York Times (06/05/07) publicou lado a lado, a crítica a dois livros que retratam a história de duas adições específicas: o tabaco e o álcool. O tabagismo é um fato do século XX que com grande chance se encerrará no século XXI. O álcool começou com a agricultura e a fermentação. A embriagues é descrita na Bíblia. Pior, o álcool utilizado de forma moderada - seja lá o que isso significa - reduz o risco de doença cardiovascular. O ponto alto das resenhas é que jornalistas convidados são dependentes tanto do cigarro como do álcool. Os textos tornam-se atrativos.
Tudo isso para lembrar que está na hora de discutirmos com mais seriadade a questão da dependência do ser humano a substância ou mesmo comportamentos. Precisamos tirar essa questão da área policial e religiosa como vem sendo tratada. Além do tabaco, do álcool das chamadas drogas ilegais, há necessidade de avaliar a adição a benzodiazepínicos e comportamentos compulsivos como comer em excesso e participar de jogos de azar.
Esse tema deve ser da saúde pública e, não mais uma reserva de mercado de psiquiatras.
Em tempo, os livros citados são:
The Cigarette Century:The Rise, Fall, and Deadly Persistence of the Product that Defined America.
Allan M Brandt,
600 pp Basic Books, $¨36
The Joy of Drinking
Barbara Holland
150 pp Bloomsburry, $14.45

Ecos da quebra de patente do efarivenz

Nenhum, por aqui. O Brasil é capa do The New York Times para comentar a contenda do Papado com a Teologia da Libertação, somente isso. A Big Pharma não está preocupada com o a atitude do Ministério da Saúde, mas deveria estar com os brasileiros que ela contrata. Eles são mais realistas que o rei. Nessa segunda feira, o Ministro da Saúde criticou justamente os executivos brasileiros. Há dois dias afirmei que a empresa "piscou". Explico a piscadela: ao invés de informar o currículo acadêmico do Ministro, todo dedicado à questão da incorporação tecnológica ou enfatizar sobre o orgulho nacional que se tornou o programa de aids - elogiado principalmente nos EUA - há grande chance de que a matriz recebeu os comentários ideológicos de sempre sobre "liberdade de mercado" etc etc. Além de acharem, os executivos brasileiors, que o Ministro é aberto ao "diálogo". O especialista em diálogo com aspas está fora do governo com influência diminuta e, nenhuma no Ministério da Saúde.

Ecos do Interamerican Hypertension Society Meeting

Ontem, participei de atividade nesse evento sobre obesidade e fatores cardiovasculares em países da América Latina. Os dados do nosso grupo mostrando um diferencial importante de obesidade em mulheres menos instruídas em comparação àquelas com maior nível de educação formal - independente da renda - são semelhantes aos obtidos no Chile por pesquisadora da Universidade Católica. Essa atividade foi finalizada com uma apresentação provocativa de Edward Rocciella questionando o "hispanic paradox". Essa situação seria o fato os hispanicos terem prevalências maiores de hipertensão e diabetes, mas com taxas (mortes divididas pela população) de mortalidade cardiovascular menor quando comparado a "whites", "caucausians". Ele mostrou que há viéses de aferição graves o suficientes para impedir qualquer cálculo adequado segundo raça, a começar pela definição de raça tanto no evento (o numerador) como nos censos (cada um com um critério distinto) do que seja um hispânico. Além disso há problemas sérios na qualidade do atestado de óbito dos hispanicos comparado aos "whites" e, também número não desprezível de causas competitivas - homicídios, acidentes, cirrose- com doença cardiovascular. Voltarei ao assunto em 13 de maio para comentar a mortalidade por raça no Brasil.

Obesidade nos EUA: It´s the quantity, stupid!!!

Trinta e seis horas nos Estados Unidos mostraram para mim que não há jeito mesmo para conter a epidemia de obesidade por aqui. Não adianta mudar de low fat para low carb, abolir transfat, inventar South Beach diet sem que haja redução na quantidade de comida oferecida.
Nem a mais zelosa mãe da Mooca faria almoço de domingo para o seu filho com a quantidade oferecida nos restaurantes americanos. Mesmo naqueles que se dizem light, o tamanho das porções é enorme. Do que adianta banir o transfat para vender um produto com iogurte e granola, mas grande o suficiente para fornecer quase 500 calorias? Antes de solicitar um capuccino no Starbuck´s pedi para ver o nutrition facts e, descobrir um capuccino grandi, o suficiente para fornecer 1200 calorias!
Por outro lado, é possível ouvir nas rádios propaganda de clínica de obesidade oferecendo tudo, incluindo os melhores cirurgiões em cirurgia bariátrica.

domingo, 6 de maio de 2007

NY Times: os venenos made in China

A China está produzindo muita porcaria. Enquanto forem somente brinquedos que não aguentam suportam duas horas de contato com uma criança sem hiperatividade, até que é suportável. Mas, a China está produzindo rações infectadas para cães e, agora xaropes com etileno glicol. Vários países já tiveram vítimas desses produtos. O mais recente é o Panamá cujo caso é apresentado em detalhe no The New York Times em reportagem de capa e, mais duas páginas inteiras. O Brasil está fora dessa barbaridade. Por isso, muito cuidado com as pílulas (literalmente) douradas dos baixos preços dos genéricos vindas da China.

A história da aspirina:um remédio maravilhoso

A aspirina já foi cantada em versos de João Cabral de Mello Neto, agora Darmund Jeffreys se dedica à prosa do relacionamento do ser humano com a molécula do ácido acetil-salicílico, o título em inglês diz tudo: "the remarkable story of a wonder drug". O texto é fluente, não precisa ser médico, muito menos farmacologista para entender e, a edição "soft cover" custou 12 dólares. Merece tradução para o português, mas pode ser adquirido nos sites como o Amazon.