sábado, 11 de agosto de 2007

Venezuela: dois sistemas e a dependência cubana.

The Lancet nessa semana traz reportagem no estilo "dois lados" sobre o sistema de saúde venezuelano. (acesso livre, clique aqui). Destaco e comento alguns trechos da reportagem.
President Hugo Chavez's popular social missions have brought free primary health care directly to low-income communities in Venezuela. But critics say that these new health services have grown at the expense of the country's existing hospitals. (.....)
Parabéns!
This contrast illustrates perfectly the reality of the current state of the country's public-health system. Instead of re-equipping and improving existing hospitals, the government has poured millions of dollars into creating a parallel social health-care system, which still is not growing fast enough to meet people's needs.
Esse é o grande equívoco da escola sanitarista. Ao desprezar os hospitais criam um gargalo imenso para a atenção básica. Já assistimos a esse filme e, vários municípios brasileiros. No Brasil, a crítica ao modelo hospitalocêntrico surge pela esquerda, mas rapidamente foi apropriado pelo que existe de pior: "universidades" com "faculdades de medicina" sem hospital-escola e, "governadores e governadoras" que desviaram recursos de hospital para sopão a um real.
The major advances under Chavez's government in health revolve around the social development programmes known as missions. These programmes are funded principally by the state oil company Petroleos de Venezuela, which, by riding the wave of an oil boom, has fuelled the government's political projects and kept the economy afloat.The mission Barrio Adentro (inside the neighbourhood), the banner social programme of the Chavez government in 2003, has brought primary health care directly to the poorest Venezuelans. The programme has been tremendously popular with citizens who are unable to pay private health insurance and has boosted the president's ratings
Muitos criticam o fato de uma empresa PDSA estar envolvida nesse processo. Ao contrário, eu considero um avanço. Pudera ter sido feito antes na Venezuela e ocorrido em outros países. Melhor do que financiar times de futebol corruptos até a medula.....e, que estão a beira do descenso.
The patients are attended to in their own neighbourhoods by Cuban doctors, who are on loan in exchange for oil shipments. The mission began with just 54 Cuban doctors in 2003 and has expanded throughout the country. According to figures from the health ministry, some 26 819 doctors are now practising in Venezuela.
Aí, está o ponto nevrálgico desse processo. Argumenta-se que os médicos venezuelanos não querem trabalhar nos lugares pobres. Bobagem, basta pagar adequadamente. Esse também é um discurso recorrente no país, incluindo um ex-ministro bem longe ideologicamente da esquerda. Lembro que em bairros pobres de qualquer país faltam supermercados baratos, delegados, investigadores, professores, não somente médicos. Hoje, em "O Estado de S.Paulo" há informação que o auxílio da Venezuela em petróleo a Cuba já suplantou o apoio da ex-União Soviética nos anos 80. A compensação cubana seriam os médicos. Em outras palavras, a utilização de médicos cubanos pouco tem a com os correspondentes profissionais venezuelanos, mas sim é conseqüência da geopolítica do governo Chaves. Quanto a "empresa cubana de médicos genéricos" já manifestei anteriormente minha opinião em Médicos Cubanos na Venezuela: seu nome é escravidão.
The original Barrio Adentro I programme was initially characterised by two-storey, octagonal brick clinics located in poor urban areas which serve both as offices and residences for doctors. That model has been giving way to well equipped clinics capable of providing advanced health care to Venezuelans. The second phase of the programme, Barrio Adentro II, was inaugurated in 2005 with the opening of 30 diagnostic centres, 30 rehabilitation centres, and several high technology centres. The high-tech centres provide nuclear magnetic resonance tests, three dimensional ultrasound, mammography, video endoscopy, and electrocardiography, among other services.
Muito bom, mas somente médicos venezuelanos estão capacitados a utilizar esses equipamentos. Mesmo assim, com hospitais sucateados não haverá como tratar quem foi diagnosticado nesses centros. “One of the problems in the country is the presence of supposed Cuban doctors. We have determined through studies that only one in every ten of these doctors is really qualified to be practising in medicine while the others are simple technicians”,
Esse fato que há "médicos" cubanos também recebi de duas pessoas diferentes, brasileiro e português que conheceram o trabalho dos cubanos em Angola.
Há um outro dado na apresentado no artigo, mas já citado nesse blogue, que foi a censura aos dados de homicídio em 2004 em diante. Por isso, os indicadores vindos da Venezuela sempre serão positivos..

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Um livro disponível de Kurt Kloetzel

O que é Medicina Preventiva da Coleção Primeiro Passos da Livraria Universitário ainda é um dos poucos livros de Kurt Kloetzel disponível no mercado. Leitura simples, conteúdo aprofundado. Recomendado a todos os interessados na área de medicina e saúde coletiva.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O mundo mais triste: morreu Kurt Kloetzel

Tristeza. Morreu Kurt Kloetzel nesse domingo, 05 de agosto de 2007. Para quem não sabe, ele foi o mentor desse blogueiro e, como idéias não morrem, sempre o será. Kurt foi uma figura especial, sempre questionador, incomodado com aquilo que para os demais seria normal e corriqueiro. Como editor de "Diagnóstico & Tratamento" abri a ele, aquilo que tristemente, descobri foram os seus últimos escritos publicados. Espero que haja mais. A todos, que conviveram com Kurt, a lembrança daquele, que um dia escreveu o seguinte epitáfio: AQUI JAZ QUEM SEMPRE PROCUROU SARNAS PARA SE COÇAR ! E, AS ENCONTROU!
Kurt nasceu em Hamburgo, na Alemanha, no dia 22 de março de 1923, formou-se pela Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo em 1955, trabalhou no Departamento de Parasitologia e no Instituto de Medicina Tropical da mesma Faculdade. Ele foi um dos iniciadores da Universidade Estadual de Londirna e do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas . Publicou vários livros, como o ABC do Charlatão, para mim, um clássico, bem antes dos modismos de medicina baseada em evidência. Aos familiares, o pesar que dirijo ao meu querido amigo Daniel, seu filho.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Avandia, o voto vencido na reunião do FDA.

Clifford Rosen, endocrinologista que dirigiu a comissão do FDA que manteve a comercialização do Avandia nos Estados Unidos foi voto vencido na reunião de 30 de julho. Hoje, no The New England Journal of Medicine ele apresenta as razões do seu voto. (clique aqui, acesso livre) O artigo é simples e de fácil compreensão por não médicos ou epidemiologistas. Em suma, o FDA considera que o importante é reduzir a glicemia, mesmo que o diabético tenha um infarto do miocárdio.
Meu mestre, Virgílio Gonçalves Pereira, um clínico fantástico, adorava afirmar que alguns médicos preferiam assinar atestado de óbito de um paciente com exames normalizados, a dar alta com exames alterados.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Redução de homicídios não é resolução da criminalidade?

Na Folha de S.Paulo de hoje há mais um artigo daqueles que negam que houve melhora em indicadores de violência, como a taxa de homicídios.
Vejam, parte do texto de Marcos Nobre
Entre 1995 e 2007, em valores aproximados, o número de presos subiu de 68 mil para 320 mil. Nesse mesmo período, o número de encarcerados por 100 mil habitantes saltou de 74 para 183. Isso mostra que a resposta habitual -penas mais severas e mais longas-não conseguiu até agora resolver o problema.
Ele omitiu que ocorreram 12.320 homicídios em 1996 no Estado que foram reduzidos a 8.732 em 2005. Em números relativos (por 100 mil), a queda foi de 35 para 22. Uma queda de 37%.
Gostaria de comentar mais sobre o texto publicado, mas prefiro ficar por aqui, afinal sou um positivista que considero que o combate à criminalidade passa pelo combate ao criminoso. Uma heresia na ciência social brasileira, onde combater a criminalidade implica financiar ONGs que discutem e analisam a violência.

Ao amigo de infância de Dercy Gonçalves: quero ver a foto com 100 velinhas!

O artigo do Diário de S.Paulo (06/08/07) afirma que Dercy Gonçalves (102) está usando o seu prestígio para que o conterrâneo e amigo de infância Manoel Teixeira Bastos (99) seja submetido a cirurgia de fratura de fêmur. Apesar do pitoresco que sempre envolve a veteraníssima atriz, a sua ação é legítima e, em nada a desabona. Ao seu Manoel, o desejo que possa assoprar as cem velas em novembro. E, a Sérgio Cortes -secretário de saúde do Rio de Janeiro e a todos os demais gestores do sistema único de saúde (e, da saúde suplementar) o dilema que sempre cerca esses casos.
Hoje, JAMA publica analise de custo-benefício da detecção de osteoporose e tratamento em homens. O acesso é gratuito, clique aqui.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A covardia ao alcance de todos: médico agredido.

Minha solidariedade ao colega Ildemar, o querido Zuzu dos tempos de Faculdade. Para quem não o conhece, Ildemar de tão franzino era o "patrão" da equipe de canoagem. Vejam a situação: um senhor de 82 anos já internado na UTI morre, mas um genro e neto resolvem agredir a um médico que nem tinha relação com o atendimento. Alguém, talvez poderia justificar uma agressão por impulsão, se um filho de 3 anos morresse por não atendimento. Mas, trata-se de mais um caso de prepotência apoiada na impunidade vigente. A Prefeitura de São José dos Campos deve ser responsabilizada, caso contrário não haverá médico que queira trabalhar nas suas unidades. Pergunto se haverá a mesma grita que ocorrida quando da covarde agressão à empregada doméstica no Rio de Janeiro por outros cinco cafajestes?
06/08/2007 - 22h03 "Me sinto humilhado", diz médico agredido no interior de SP da Folha Online O médico Ildemar Cavalcante Guedes, 55, foi agredido por dois familiares de um paciente que morreu no plantão do Hospital de Clínicas Sul, em São José dos Campos, na madrugada deste sábado (4). Segundo o médico, o paciente, com 82 anos, sofreu falência múltipla de órgãos e morreu às 0h45. Os parentes foram avisados por um enfermeiro e ficaram revoltados. "O genro do paciente veio para cima de mim e me deu um murro. Foi uma agressão gratuita. Eu nem havia atendido o sogro dele. Ele bateu na primeira pessoa que viu com estetoscópio pendurado no pescoço", contou Guedes à Folha Online. Neste momento, um neto do paciente saltou sobre o balcão e juntou-se ao pai para espancar o médico. "Levei a pior, porque eram duas pessoas me socando ao mesmo tempo. Depois que outros funcionários apartaram a briga, os parentes fugiram", afirma. "Me sinto humilhado" Guedes reconhece os motivos que levam às agressões. "As pessoas estão revoltadas com o sistema. É avião caindo, é senador corrupto, é educação ruim, é falta de segurança... Tudo isso faz as pessoas guardarem uma insatisfação crescente. Quando encontram um representante do poder público, vão para cima, mesmo que seja alguém que está na mesma situação dele. Eu não tenho poder de mando, sou só um soldado raso", conta. A compreensão, contudo, não o fez esquecer da violência. "Nada justifica uma agressão gratuita, até porque o paciente havia sido bem atendido", conta o médico, que registrou boletim de ocorrência por agressão no 2º DP e pretende processar os agressores na área cível, por danos morais. "Até agora eu me sinto humilhado, com raiva", desabafa. Trabalhando há 26 anos na prefeitura, Guedes afirma nunca ter passado por agressão semelhante, mas diz que as agressões contra colegas tornaram-se comuns nos hospitais públicos. "Já houve um parente quebrou a mandíbula de um enfermeiro", relembra. De acordo com o médico, o problema piorou nos últimos meses, depois que a prefeitura passou a tirar os guardas civis municipais das unidades de saúde. "A prefeitura está negligenciando a segurança", reclama. No hospital onde foi agredido, segundo o médico, três guardas faziam a segurança, mas hoje há apenas um, que fica a maior parte do tempo no estacionamento, para evitar furtos nos carros. A secretária de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal, Elizabeth Carlos da Motta, diz que médicos e enfermeiros sofrem com ameaças e agressões cada vez mais comuns. A sindicalista conta que, na semana passada, um médico da UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) Campo dos Alemães foi ameaçado de morte por ter se recusado a passar um atestado de médico para um paciente que queria faltar ao trabalho. "Os médicos estão sem segurança", diz Motta, que também culpa a falta de GCMs nas unidades de saúde pelo problema.

Pesquisa Médica número 3

A revista Pesquisa Médica está no seu terceiro número com uma quantidade de informação grande. A qualidade do texto é muito boa. Não sei exatamente qual o público-alvo, mas a qualidade das matérias indica interesse mais para médicos e profissionais de saúde do que para o público leigo. Uma sugestão seria agregar mais todo o complexo médico-sanitário, incluindo desde aqueles que gravitam na indústria farmacêutica até os militantes sanitaristas.

domingo, 5 de agosto de 2007

O custo da visita do representante farmacêutico

A revista Medical Economics publica texto sobre o custo do médico ao receber em seu consultório representantes farmacêuticos. Isto nos Estados Unidos. Um médico contabilizou um ganho de 6300 dólares a mais no seu orçamento, ao oferecer no tempo que recebia os representantes, mais consultas à sua clientela. Esse médico recebia 15 representantes por semana. Um estudo por empresa de assessoria chegou a valores parecidos.
Algumas secretárias de consultórios médicos brasileiros há décadas já falavam o mesmo.