quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Rastreamento para câncer de pulmão: finalmente algo novo!

O The New England Journal of Medicine publicou hoje os resultados do The International Early Lung Cancer Action Program Investigators , um estudo que realizou tomografia de tórax em 30 mil participantes que eram ex-fumantes ou com risco de câncer, diagnosticou câncer de pulmão em 484 participantes, dos quais 412 (85%) tinham a doença no estágio inicial e, a sobrevida em 10 anos estimadas foi de 88% nesse subgrupo. Entre os 302 participantes com estágio inicial que foram operados no primeiro mês de diagnóstico, a sobrevida subiu para 92%. Os 8 participants com doença na fase inicial que não receberam tratamento morreram dentro de 5 years depois do diagnóstico.
Comentário: o resultado desse estudo é esperado há muito tempo, depois do fracasso do rastreamento do câncer de pulmão por radiografia de tórax. Hoje, há verdadeira histeria pelo rastreamento de cânceres de crescimento lento e baixa letalidade e, verdadeiro desprezo em detectar o câncer que mais mata, o de pulmão. A proposta é de rastrear somente os ex-fumantes e fumantes passivos. Os fumantes atuais não devem ser submetidos e, sim tratados para cessar o vício. No caso da confirmação desses dados em outras pesquisas, estudos de custo-efetividade irão indicar o quanto e quando será adequado realizar rastreamento para câncer de pulmão. Conclusão, apesar de um ceticismo enorme em relação ao check up de uma forma geral, principalmente para câncer de próstata, adoto uma posição de otimismo cauteloso em relação à proposta de rastreamento com tomografia para ex-fumantes. Esse estudo dará muito o que falar.
O resumo do texto pode ser lido em http://www.nejm.org e, cópias do artigo original podem ser solicitadas à autora, Dra. Claudia Henschke em chensch@med.cornell.edu

Porto Seguro vende carteira de planos individuais

A Porto Seguro vendeu para a Amil a carteira de seguro saúde individual que representava um décimo do seu faturamento. Há rumores que outros empresas também estejam vendendo essa categoria de planos para se fixar nos planos corporativos. Essa pode ser uma tendência de especialização entre seguro saúde e medicina de grupo. Os primeiros teriam como foco o cliente empresarial e, o segundo o individual. Isso faz sentido com a proposta das medicina de grupo e, Unimed em aumentar os serviços próprios para controle de custo. Antes que alguém envie um email cobrando coerência, informo que o destaque nesse blog é para mostrar como o mercado privado está se organizando, somente isso. Como toda medida racionalizadora nessa área, os honorários médicos serão os mais atingidos.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Stents farmacológicos: cada vez mais, evidências contrárias.

Esse blog tem se dedicado a seguir a saga dos stents farmacológicos com três posts anteriores. Há bom tempo há evidências fortes que mostram risco aumentado de trombose nesses aparatos quando comparado àqueles sem proteção. O mercado de stents é da cifra de 5 bilhões de dólares e, duas empresas a Boston Scientific e a J&J dominam o mercado, cada um com sua marca, Taxus e Cypher, respectivamente. Alguns pesquisadores já questionaram se os stents farmacológicos forem implantados em todos os doentes com aterosclerose, não haveria quebra do sistema de saúde americano. Não, sei mas com certeza no Brasil isso ocorrerá. Ontem, no Transcatheter Cardiovascular Therapeutics 2006 realizado em Washington foi apresentada a avaliação dos dados primários dos principais ensaios clínicos, onde o uso do Cypher aumentou em 0,6% o risco de trombose e a aplicação do Taxus em 0.4%. Em outras palavras, 2-3 pessoas em 500 apresentam trombose comparada ao uso de stents sem tratamento farmacológico. Em termos populacionais, essa proporção tem impacto muito grande, além de implicar no uso continuado de medicação antiplaquetária por longo tempo.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

WSJ: Medicare restringe a "auto-referência" de ressonâncias magnéticas.

The Wall Street Journal (23/10/06) informa que autoridades federais americanas preocupadas com exames desnecessários e aumento de custos estão tentanto reduzir o rombo (to shrink loopholes). O Ministério da Saúde local está tentando impedir a auto-referência, ou como escrito to crack down on the practice of "self-referral," in which a doctor has a financial interest in tests or other services he or she orders for a patient. Os custos de imagem são os principais do sistema Medicare, do governo federal para idosos com aumento de 20% ao ano desde 1999. Em 2005, Medicare gastou US$ 7 bilhões para tomografias e ressonâncias magnéticas. Por ser, o principal segurador, provavelmente a política do Medicare será seguida pelas empresas privadas. Para exemplificar a situação atul, o jornal informou que a Siemens distribuiu um comunicado aos otorrrinolaringologistas estimulando a compra ou leasing de aparelhos de ressonância. Segundo a empresa, um aluguel de cinco anos por US $477,000 propiciará um rendimento de US$843,000 para cinco exames encaminhado por dia e, de US$2.1 million no caso do encaminhamento de 10 pacientes ao dia.
Comentário: se os Estados Unidos têm problemas dessa natureza, o que dizer do Brasil, com recursos bem menores, mas com a mesma volúpia de consumo de exames diagnósticos?

Planos de saúde ampliam serviços próprios

Valor Econômico (23/10/06) informa que a Medial Saúde captou R$500 milhões na bolsa de valores para ampliar os serviços próprios com a compra de um novo hospital. A empresa pretende aumentar de 39% para 50% das despesas de sua carteira nos próprios da empresa. Outra forma de redução de custo será a compra de laboratório clínico para fugir do controle das duas principais empresas, Fleury e Diagnóstico da América. A reportagem informa que a opção de serviço próprio foi também adotada com êxito pela Amil e Unimed Paulistana. Comentário: o assim chamado “terceiro pagador”, no caso os planos de saúde não estão mais agüentando ficar no meio da corda entre hospital e cliente. A opção pela operação de clínicas e hospitais próprios reduzirá custo, principalmente o decorrente de honorários médicos.

domingo, 22 de outubro de 2006

Haim Gruspun: médico, psicólogo, advogado, escritor, intelectual...

Morreu Haim Grunspun, médico formado em 1952 na FMUSP e, com longa carreira na psiquiatria e psicologia infantil. Convivi com ele quando estudante de Medicina (lá nos anos 70) pela amizade que tinha com seu filho Henrique, passei a noite da invasão da PUC em 77 em sua casa, meio refugiado. Depois, na época da residência foi um bom conselheiro em relação médico-paciente. Poderia ter sido um médico popstar, mas sempre preferiu se expressar nos vários livros que publicou na sua área de conhecimento. Há muito tempo não o via. Para mostrar como foi sua carreira: judeu, teve direito a "missa" de sétimo dia em colégio católico. Haim!