quinta-feira, 2 de novembro de 2006

A Pfizer em sinuca de bico: o caso do torcetrapib

Em 1990, The New England Journal of Medicine publicou o artigo “Increased high-density lipoprotein levels caused by a common cholesteryl-ester transfer protein gene mutation”. Posteriormente, várias empresas, entre elas a Pfizer tentaram chegar `a molécula que poderia inibir a cholesteryl-ester transfer protein, ou seja mimetizar a mutação em japoneses. O resultado foi o torcetrapib. No entanto, esse novo fármaco aumentou a fração HDL do colesterol, mas teve pouca ação na redução do LDL-colesterol. A proposta da Pfizer foi associar a já consagrada atorvastatina (Lipitor) com o torcetrapib em uma ação mais de mercado do que realmente farmacológica. O Lipitor perderá a patente sendo a medicação que mais vende no mundo, 12 bilhões de dólares em 2005. No The Wall Street Journal informa que a Pfizer está patrocinando vários estudos no valor total de 800 milhões de dólares para testar o torcetrapib, porém a própria empresa está noticiando que esse fármaco aumenta a pressão arterial sistólica em 4 mm de mercúrio. Um aumento pequeno para um indivíduo, mas que tem impacto em tratamentos de massa. Um dos estudos em via de publicação compara os aspectos ultrassonográficos de pacientes em uso de atorvastatina/torcetrapib em comparação a somente atorvastatina. O resultado somente terá importância se revelar que a regressão da aterosclerose for a mesma nos dois braços. No caso de resultado favorável à combinação será necessário um longo e grande ensaio clínico para verificar desfechos finais como morte, infarto do miocárdio, doença cerebrovascular e outros eventos cardiovasculares. Tudo isso se o comitês de ética aprovarem o início dos estudos. Para quem nos dias de hoje, duvida da imprensa, um prato cheio: uma revista semanal há seis meses, já glorificou o torcetrapib como uma “solução” para as doenças cardiovasculares.

IBGE (Assistência Médico Sanitária): número de leitos alto ou baixo?

O IBGE publicou mais uma pesquisa de assistência médico-sanitária (AMS) com inúmeros dados distribuídos em 164 páginas que podem ser arquivadas diretamente de http://www.ibge.gov.br . Lerei com atenção todo o texto, mas agora comento a repercussão na imprensa sobre a informação mais destacada: diminui o número de leitos, mas aumentou a ocupação deles. Bom ou Mal? Houve especulação e excesso de verbos no condicional. Ficarei feliz quando um pesquisador quando questionado responder: Não Sei! O motivo:
As pesquisas do IBGE são caras e difíceis de serem executadas e, somente esse órgão tem estrutura para fazer um retrato do país. Mesmo com essa qualidade elas não permitem inferências causais, pelo motivo simples que não foram delineadas para atingir esse objetivo. O IBGE sofre com a manipulação política, tal como já ocorreu no estudo da PNAD sobre estado nutricional e padrão dietético. Quem quiser, ao menos aparentar seriedade precisa ler o texto e, depois comentar e, apresentar suas conclusões como meras especulações.
No caso da região metropolitana de São Paulo, mais especificamente a Zona Oeste da Capital, posso afirmar que é preciso expandir o número de leitos de adultos e, manter o número atual dos destinados a crianças e gestantes. O Hospital Universitário da USP é quase a única referência pública na região com 265 leitos (há também um hospital municipal com 70 leitos, dos quais 70% de maternidade) com a ocupação adequada em torno de 80% dos leitos e, um programa de atendimento domiciliário com 100 pacientes. O HU foi escolhido em edital público para dirigir uma pesquisa de políticas públicas financiada pelo Ministério da Saúde e FAPESP, para estudar e atuar nas assim chamadas "internações evitáveis". O projeto está na fase inicial de implantação junto a três unidades do programa saúde da família. Essa pesquisa e, outras poderão indicar se há excesso de internações ou falta de leitos, mas com certeza não haverá uma resposta para o país como um todo.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Planos de saúde individuais encolhem

A Gazeta Mercantil (31/10/06) apresenta os dados da consultoria Towers Perrin sobre a assim chamada “saúde suplementar” que atende “36 milhões” (sic, porque nunca vi a estimativa publicada de forma rigorosa desse número). (1) os planos de saúde corporativo representam 68% dos planos, se considerarmos somente os planos novos depois da lei 9658/98, os planos coletivos chegam a 76% do universo de vidas cobertas; (2) a inflação anual brasileira nos custos da “saúde suplementar” é de 12%; (3) a divisão do mercado por categorias de prestadores é a seguinte: planos de saúde =49%; medicina de grupo = 21%; autogestão = 18%; cooperativas = 12%; (4) os executivos principais das empresas ainda não participam nem interferem nas decisões relativas aos planos de saúde. Comentário: os planos individuais tendem a ser parte residual do sistema privado de assistência médica, tal como ocorre em todos os países. A existência desses planos foi reflexo mais uma deficiência do sistema, do que uma qualidade. Em parte, a presença da inflação e, a tradicional incompetência brasileira em calcular custo permitiu que esses planos sobrevivessem. A explicação é simples: a adesão individual é quase sempre de risco. Há 20 anos observei em um hospital privado de São Paulo, o sucesso do corretor vendendo planos de seguro de saúde para quem tinha acabado de sair do hospital e, passar no caixa.

Bolsa de Estudos em Harvard: Lemann Fellowships em Saúde Pública.

Uma boa e rara notícia: um brasileiro, Jorge Paulo Lemann que enriqueceu com a Mesbla, Brahma, Ambev e Lojas Americanas e do banco Garantia está dispondo parte do seu dinheiro com brasileiros que sejam aceitos na pós-graduação na Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard em Boston, Estados Unidos. Lemann poderia estar gastando seu dinheiro em Las Vegas, mas preferiu colaborar uma das mais fantásticas instituições de ensino, onde você pode almoçar rodeado pela humanidade, tamanha a diversidade do alunado da escola de saúde pública. Aguardamos outras propostas concorrentes ao Lemann Fellowships. Abaixo, a apresentação e forma de contato. The Lemann Fellowships give Brazilians who work or aspire to work as professionals in public health, public policy or education the opportunity for advanced study and training through a degree program at Harvard University so as to help build a stronger, more effective public sector in Brazil. Dates and Deadlines: For information on HSPH application deadlines, please visit: http://www.hsph.harvard.edu/admissions. Lemann Fellowships are awarded on an annual basis after admissions decisions are made. Recipients must re-apply for additional funding after their first year. Contact Information: Committee on General Scholarships Harvard University 1430 Massachusetts Avenue, 6th floor Cambridge, MA 02138 Tel. +1 (617) 496-9367 Fax: +1 (617) 496-4545 e-mail: cgs@fas.harvard.eduhttp://www.scholarship.harvard.edu

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Genéricos cada vez mais populares nos Estados Unidos

Há dez anos, a situação era a seguinte: (1) Estados Unidos ninguém ousava falar em genéricos, exceto alguns idosos inconformados com os preços dos medicamentos, as farmácias escondiam na prateleiras e, os médicos não prescreviam; (2) no Brasil iniciava-se a discussão e processo de adoção de um projeto considerado obra de um "maluco', o então deputado Eduardo Jorge (PT-SP) e, por um Ministro "oportunista", José Serra. Vários médicos e professores de medicina diziam em alto e bom som, que os "genéricos não pegariam". Bem, a história brasileira é conhecida. A história americana pode ser acompanhada, hoje (31/11/06), no The Wall Street Journal na reportagem mostrando que todas as empresas de seguro-saúde e a maioria dos empregadores estão exigindo que se prescreva somente genéricos, ou que haja substituição do medicamento de marca pelo genérico.
Alguns planos de saúde não estão mais exigindo o pagamento do sistema de co-pagamento quando o medicamento for genérico, ou seja há subvenção total para genéricos. A comparação de novos genéricos lançados no mercado comparado ao medicamento de marca referência mostra que os genéricos suplantaram as vendas rapidamente dos medicamentos de referência.
Comentário: os medicamentos genéricos representam um avanço na assistência farmacêutica. No Brasil vingou porque houve determinação política, apesar da oposição da indústria farmacêutica, via porta-vozes na imprensa, academia e sociedades de especialistas.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Financiamento dos Republicanos à Big Pharma.

Essa informação é passada somente no original para não haver dúvida. Encontra-se no The Wall Street Journal de 25 de outubro de 2006. Reproduzo três parágrafos não consecutivos.
título : Fearing a Democratic Victory, Drug Makers Fund Key Races
(1) Few businesses have more at stake in next month's congressional elections than pharmaceutical makers. Assailed by Democrats, drug companies are pouring millions of dollars into close races, giving some Republicans a financial edge. In the process, the industry is becoming not just a campaign backer, but also a campaign issue.
(2) The Republican-controlled Congress has been kind to drug makers. As the prescription-drugs benefit was crafted, Republicans battled not just Democratic critics but also fiscal conservatives in their own party who opposed creating the expensive government program.
(3) Congressional Republican leaders prevented Medicare from negotiating prices with the industry. They also killed a proposal that would have allowed the government to offer its own coverage in competition with those sold by private companies. The industry successfully argued that the government's clout would mess up prices and stifle innovation.

Raça e Saúde: melhor ler, refletir e, depois opinar.

Na semana passada, notícias imputando afirmações que nunca um Ministro da Saúde faria: "O SUS é racista". Coisas da pressa em formatar manchetes. A questão é muito complexa e, não resolvida. Um blogue não é local adequado para expor toda complexidade que o assunto exige.
Recomendo a leitura de dois artigos de livre acesso que estão na secção "Cursos de Pós Graduação": "conceito de raça" e "raça e hipertensão' de Sérgio Danilo Pena (professor da UFMG) e Josué Laguardia (doutorando da FIOCRUZ), respectivamente.