quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Conselhos de saúde na imprensa leiga: no meio do horror, um espaço para Stuart-Mill

Domingos, feriados e, principalmente feriadões são momentos de leitura mais cuidadosa de jornais e revistas. Poucos artigos interessantes com análises originais, a maioria segue a linha da auto-ajuda ou da intimidação à saúde do leitor, caso ele ou ela não siga os conselhos dos entrevistados. Primeiro foram os psicólogos/psiquiatras/psicanalistas, depois médicos em geral, agora professores de educação física com algum tipo de treinamento tibetano, falam da vida com um conhecimento próprio do Dalai Lhama. Os palpiteiros das várias profissões desconhecem como o "conhecimento" que divulgam de forma incompleta foi concebido. Pior ainda, eles não medem os efeitos negativos de recriminações ou de sugestões divulgadas relacionadas ao chamado "estilo de vida".
Eles conseguem espaço porque vendem um produto inexistente: a vida eterna e sem conflitos; Porém, essa questão não é nova. Trata-se de objeto da filosofia e da ética há muito tempo. Duas frases são fundamentais a serem lembradas, a primeira de John Stuart-Mill (1806-1872): "o único objetivo para o qual o poder pode ser justamente exercido contra o desejo de qualquer membro de uma sociedade civilizada é para evitar dano aos outros. Exercer o poder contra o desejo de um cidadão unicamente para evitar um prejuízo físico ou moral a ele próprio, não constitui justificativa aceitável." ( do original em Three essays: On liberty, representative government, the subjection of women (original 1859, London: Oxford University Press: "the only purpose for which power can be rightfully exercised over any member of a civilised community against his will is to prevent harm to others. His own good, either physical or moral, is not sufficient warrant") . A segunda bem mais recente de Ian Markham: "os pais tomam decisões por seus filhos na crença que isso é o melhor para eles. Permite-se aos pais o direito de ser paternalista. Contudo, médicos não são pais e adultos não são crianças. Embora seja tentador ao médico usar o seu conhecimento para decidir o que é o melhor, o respeito a autonomia do indivíduo deveria impedir tal ato". (traduzido de Markham, Ian S. Ethical and legal issues. Br Med Bull1998: 54:1011-21: "parents make decisions for their child in the belief that this is for the child's good without the child's permission. Parents are permitted to be paternalistic. However, doctors are not parents and adults are not children. Although it is tempting for the doctor to use their expertise to decide what is best, respect for an individual's autonomy should forbid this".)

Nenhum comentário: